terça-feira, 31 de julho de 2007

Ainda o "Cansei"

Por sugestão da leitora Angela Albino, fui conferir na Folha de S. Paulo um artigo deveras interessante sobre o movimento "Cansei". É uma análise a se considerar. Clique AQUI para ler.

Beleza


Já imaginou, prezado leitor, viver num lugar assim, com todo este esplendor diante dos olhos, todos os dias? Tem gente que vive aí. Sabem que cenário é este?

Cansaço

Estou recebendo seguidas mensagens que abordam o tal Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros, conhecido popularmente como “Cansei”. Alguns atribuem a esse movimento uma faceta direitista, porque supostamente teria o objetivo de derrubar o presidente Lula. Ao que tudo indica, o próprio PT estaria se preparando para enfrentar nas ruas as passeatas do “Cansei”, mesmo as manifestações de luto, como a de domingo, em memória das vítimas do acidente com o avião da TAM, em São Paulo.
Há razões e mais razões para que a paranóia petista em relação à classe média se espalhe. Foi uma passeata da classe média que, em 1964, deu o tom para a derrubada do presidente João Goulart. Mas, no caso presente, é difícil traçar paralelos históricos. As condições objetivas são outras. Não há ameaça comunista, apenas os velhos traços da incompetência governamental e de sua paquidérmica máquina administrativa, também conhecida como “teta”.
A questão é clara: Lula está só sendo chamado ao trabalho, à responsabilidade do cargo pelo qual tanto lutou. É isso que tenho entendido de tudo quanto li sobre o “Cansei”.

Morte e vida

No RBS Notícias de ontem à noite, o secretário municipal Norberto Stroisch discorreu sobre o novo cemitério que a prefeitura de Florianópolis pretende construir, uma vez que o atual - São Francisco de Assis, no Itacorubi - está saturado. A nova área deve ser no bairro do Cacupé e terá, segundo Stroisch, uns "30 anos de vida útil".

Susto e morte

No mesmo RBS Notícias de ontem, anotei uma chamada estranha [do bloco local para o estadual): "Assaltantes estão assustando os moradores de Itapema".
Assustando é uma licença poética. Os assaltantes estão matando mesmo.

segunda-feira, 30 de julho de 2007



Tenho certeza que nenhum dos leitores conheceu esse panorama de Florianópolis. Reconhecem o cenário? De onde a foto foi registrada (onde estava o fotógrafo)? [O clic é da década de 1940].

Estatística da tristeza

Número de mortos nas rodovias catarinenses em seis meses, segundo informação divulgada pela CBN-Diário hoje cedo: 432.
Ou seja, morre muito mais gente nas estradas do que na soma de acidentes aéreos. Questão, aliás, abordada há poucos dias, com muita propriedade, pelo jornalista Cesar Valente em seu blog (AQUI).
O caso dos desastres aviatórios é que eles nos causam muito mais impacto. Em geral, porque matam um grande contingente de passageiros de uma vez só – como o caso do último, em que 200 pessoas perderam a vida.
Em relação às estradas, o que causa espanto são as causas: imprudência dos motoristas, aumento da frota automotiva e o péssimo estado das estradas. Se pensarmos bem, são o apagão aéreo tem causas semelhantes. Vejamos: falha humana dos pilotos ou controladores, aumento do número de aeronaves e péssimas condições de alguns aeroportos.

Quanto rende

Há um imblogio legal envolvendo licitação para novas licenças de táxi em Florianópolis. Entrou muita gente na concorrência, de olho num mercado economicamente interessante e, desta forma, causando revolta e indignação entre aqueles que vivem da profissão – os taxistas registrados no sindicato local.
Conversei com um desses motoristas profissionais, que é do ramo há mais de 30 anos. Do depoimento dele, feito de maneira informal e sem que eu tenha informado o meu objetivo, colhi o seguinte:
– Um táxi bem situado (um bom ponto ou base de grande movimento) chega a faturar R$ 8 mil por mês. Deste faturamento, cerca de R$ 4 mil são separados para cobrir as despesas – manutenção do veículo, comissões dos motoristas contratados (autônomos) e combustível. Sobram R$ 4 mil, que é quanto uma placa de táxi pode render mensalmente ao seu proprietário. Em outras palavras, um grande negócio para quem pretende garantir uma “aposentadoria complementar”, como disse um médico que participou da licitação promovida pela Prefeitura de Florianópolis.

sábado, 28 de julho de 2007

Pausa

Numa passagem a trabalho pelo Pântano do Sul, também conhecido como Pantisul, não perdi tempo e cliquei a rapaziada da pescaria assim: arrumando os barcos enquanto o forte vento Sul impedia a navegação. [Para ver a imagem num tamanho um pouco maior, clique na própria]

Apagão antigo

Quando escuto falarem em apagão aéreo sempre me lembro do que acontecia comigo, na década de 1980, época em que viajava todos os meses. Conheci quase o Brasil inteiro, graças a um bom emprego que tinha em São Paulo e me exigia viagens constantes. Nunca consegui embarcar num vôo no horário. Os atrasos entre um aeroporto e outro variavam entre uma e três horas; as esperas eram piores ainda nos Estados nordestinos, por causa das férias [julho]. Em 1987 – foi o pior vôo que fiz na vida, por isso guardei o ano – aguardei quase cinco horas no aeroporto de Porto Alegre para voltar a Florianópolis. Havia uma tempestade, entre os dois Estados, que impedia o tráfego aéreo. Mesmo assim, a Infraero autorizou nosso embarque. Entramos no avião. Como sou um sujeito previdente, sempre carreguei uma pequena garrafa de uísque na minha valise. Foi o que me salvou, porque o serviço de bordo havia sido suspenso. Viemos sacolejando de lá até Florianópolis. Quando desembarquei, com as pernas bambas, não sabia se estava travado por causa do uísque ou das turbulências.

Mais ou menos por aquela época decidi que não embarcaria mais em avião. Decisão tola, evidentemente, porque voltei a viajar muitas vezes, algumas delas por necessidade, outras por puro prazer. Em 1994, por exemplo, aproveitei uma ótima oportunidade e fui conhecer a França. Deixei Florianópolis à tarde para embarcar num vôo que sairia por volta de 23 horas do Rio de Janeiro. Feito o check-in, nós aguardamos quase duas horas para embarcar no avião. Maravilha, duas horinhas de atraso não significam tanto quando se tem pela frente quase doze horas de sobrevôo oceânico.
Mas... Uma vez instalados dentro do Boeing da Varig, notamos que havia algo estranho. Ligavam um aparelho, que parecia uma turbina secundária; desligavam; religavam. Repetiam a operação a cada dois ou três minutos. Se fosse um carro, eu diria com certeza que estava com problemas no motor de arranque.
As horas foram passando. Nós suávamos – porque não havia energia para ligar o ar-condicionado – e aguardávamos uma solução. Pela janelinha, conseguia ver uns sujeitos de macacão mexendo numa das asas. Aí mesmo é que eu suava mais – um suor frio, evidentemente, que me escorria pelo rosto e pelo pescoço. Não havia lenço que conseguisse estancar aquela sangria.

Resumo da história: quase quatro horas da manhã, finalmente o Boeing começou os procedimentos para a decolagem.
Iniciado o serviço de bordo, pedi um uísque duplo. Logo após, veio o jantar. Supimpa, é claro, porque a Varig era ótima [e os passageiros pagavam por isso] de cozinha.
Reclinei a poltrona e chamei o sono – para sonhar, infelizmente, com um grupo de mecânicos, de uniforme, mexendo e remexendo nas asas enquanto o avião sobrevoava o Atlântico...
Quando acordei, já sobrevoávamos a Espanha. Estou salvo, pensei. Mas logo caí em mim: haverá a volta, mais 12 horas de viagem, pela mesma Varig etc. e tal. No dia marcado, cheguei meia-hora antes do necessário ao Charles De Gaulle. Comprei jornais e revistas e preparei-me para umas duas ou três horas de espera. Estava errado. Chamaram no horário, embarcamos no horário, o avião funcionou bem e, no dia seguinte, 7 horas da manhã, estávamos no Rio de Janeiro. O Brasil tinha uma nova moeda (o Real), que valia mais do que os meus escassos dólares economizados... Mas essa é uma outra história.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Autoridade

Nelson Jobim foi malhado por uma parte da mídia - os comentaristas e analistas - porque não teria vocação nem atributos para ser ministro da Defesa. É um argumento falho. O administrador público não precisa, necessariamente, comprovar uma alta especialização em qualquer coisa para ser competente. Antes um homem de autoridade, como Jobim, do que o "boa gente" Waldir Pires. Penso que Lula pode ter feito uma de suas melhores escolhas. A manchete dos jornais de hoje - de que o ministro coloca a segurança como prioridade na questão da aviação brasileira - indica o caminho a seguir. Resolvido o problema, que ninguém ainda soube como encaminhar, acabam as filas e atrasos nos aeroportos. Mas, cá entre nós, isso é coisa para meses.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Ainda o filtro

Nessa discussão sobre filtros na internet, para que a rede recupere a reputação perdida, me vem sempre à mente a questão do profissionalismo em relação à informação: jornalistas são preparados tecnicamente para divulgar os acontecimentos. Amadores não têm a mínima noção de como tratar os fatos e, julgando-se "repórteres", atiram na net tudo o que imaginam ser "jornalístico". O Youtube é uma prova disso. Há muitos golpes envolvendo a veiculação de imagens nessa ótima ferramenta. Por exemplo: nos primeiros dias após o acidente, espertinhos colocaram no sistema de busca a informação de que tinham imagens do desastre. Não tinham. Era uma forma de direcionar os internautas para seus vídeos, com o objetivo de aumentar a audiência.
Devo dizer que a internet às vezes me cansa. Não tenho qualquer paciência para conhecer blogs e sites desinteressantes, fotos horríveis, vídeos cretinos - ou ler e-mails contendo textos atribuídos a celebridades, como Arnaldo Jabor, Maitê Proença, Luís Fernando Veríssimo, García Marquez, entre outros. Não perco meu tempo. Já fiz meu filtro. Freqüento blogs importantes [alguns linkados ao lado], G1, Estadão, Folha, BBC, Washington Post, Radio France Internationale e mais alguns, relacionados a fotografia e cinema. Meus amigos sabem que desisti do Orkut, por se tratar de uma vitrine muito perigosa e mal-utilizada.
Assim, se o Google e outros gigantes da rede são processados por causa do uso indevido de suas ferramentas, posiciono-me ao lado dos que processam e da Justiça que condena os 'malas' e os sites. Interessante é que a maioria dos casos de sacanagens acontece justamente naqueles serviços gratuitos. Quando a utilização das ferramentas é paga, ninguém se arrisca, porque a identificação é fácil. Pagar pelo uso, nem que sejam R$ 0,10 ao dia, é uma forma de moralizar a internet e afastar da rede os desocupados em geral.

A praia

O fim da tarde de ontem, visto da região do aeroporto Hercílio Luz. A beleza deve se repetir hoje, outro dia frio, mas supimpa.

A praia

A praia de ontem [veja a foto abaixo] é identificada no verso do cartão postal como sendo a do Campeche. Os leitores que disseram ser a do Morro das Pedras também não estão enganados. Naquele pedaço ali, pelo que sei, é o Morro das Pedras.

Filtragem necessária

Outro dia li uma matéria no suplemento de informática do Diário Catarinense sobre filtragem de conteúdo na internet. O objetivo - que inclui a Wikipédia - é varrer da rede aqueles internautas que colocam em risco a própria existência da internet. Como a comunicação é livre - o que não seria ruim se não existissem tantos 'malas' -, a rede virou território propício à falsificação e à sacanagem.
Li há pouco no G1 [clique AQUI para conhecer melhor o assunto] uma matéria sobre a condenação do Google, no Brasil, por causa da criação de uma falsa página pessoal no Orkut. Alguém, muito cretino, assumiu a identidade de outra pessoa com o objetivo de difamá-la. Agora, o Google tem que descobrir quem foram os autores da bandalheira.
Acho que é por aí mesmo. Se há tantos imbecis utilizando a internet para objetivos escusos, esses serviços gratuitos têm que responder pelo mau uso das ferramentas.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Foto-teste

Uma praia da Ilha, final da década de 1970. Tempos, ainda, de pouca gente e menos poluição. Foto original Edicard Postais.

Sonhos de meninas

Carolina (sete anos) e Morgana (12 anos) são amigas e estão curtindo as férias. Vão até uma loja escolher brinquedos. Elas passeiam pelos corredores, indecisas diante de tanta variedade, de tantas opções lúdicas. Quase meia hora depois, decidem: cada uma vai levar um quadro negro pequeno, uma caixa de giz e um apagador. Querem brincar de professoras. Elas têm uma idéia utópica do que seja o magistério no Brasil. Fico comovido e desisto de lhes explicar como é que a coisa funciona na realidade. Estragaria as férias delas.

Noticiários

Um amigo médico, com quem convivi muito nos anos 1980, era viciado em telejornais. Esperava-os com ansiedade, fossem da Globo, Manchete ou Bandeirantes. Na hora em os âncoras chamavam para o intervalo, ele "ouvia" a chamada assim:
- Más notícias no próximo bloco.É claro que os apresentadores queriam dizer "mais notícias".
Mas o meu amigo achava, à época, que os telejornais estavam lhe causando constantes mudanças de humor e problemas de saúde. Ficou uma semana sem assisti-los. Melhorou um pouco. Mas voltou ao vício.
Outro amigo, com quem trabalhei na TV Cultura, em São Paulo, sofria muito com a leitura do noticiário impresso. Acordava bem-disposto, mas logo ia para seu jornal favorito, o Estadão.
Apresentando problemas de saúde constantes, foi ao médico. Daqueles médicos antigos, que gostavam de investigar tudo quanto fosse relacionado à vida do paciente. Ouviu dele a pergunta: "Qual jornal você lê?". Meu amigo respondeu que era o Estadão. "Mude para a Folha". Meu amigo melhorou.
[Uma explicação para os mais jovens: na década de 1980, o Estadão era um jornal vetusto, conservador até a medula, inicialmente identificado com o golpe militar de 1964. A Folha, desde a década de 1970, era uma publicação mais liberal, às vezes até libertária, na contramão de tudo o que o Estadão publicava].

Correria

Por causa de compromissos externos, este blog anda meio capenga ultimamente. Mais alguns dias, e resolvidos assuntos profissionais, voltamos ao normal. Por enquanto, está indo na correria mesmo.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Até quando?

É só o que se lê nos jornais e internet, se vê nos telejornais, se ouve nas rádios:
passageiros revoltados invadem aviões, berram nos saguões dos aeroportos, quebram computadores das companhias aéreas...
A capa da Veja desta semana diz tudo: sobre uma imagem do desastre da semana passada, a pergunta: “Até quando?”
Até quando?
E as estradas esburacadas, de traçados antigos [quase todas das décadas de 1950 e 1960] e nenhuma segurança? E a energia elétrica que vai faltar daqui a algum tempo?
Este governo vai esperar até quando para tomar providências?
Ou vai continuar empregando seus “amiguinhos” aspones, como aquele intolerável Marco Aurélio Garcia?
Governo paquidérmico, presidente deslumbrado, inoperância geral. É o retrato do caos.
Até quando?

Luto

A suspeita deste blogueiro se confirmou: o professor Raul Guenther realmente morreu ontem, no grave acidente envolvendo seu automóvel e uma caminhonete D-20, ocorrido na região Sul do Estado. Guenther era uma mente brilhante da nossa Universidade Federal de Santa Catarina. Ironicamente, uma das pesquisas recentes que desenvolvia era "Projetos de Máquinas", dentro de sua especialidade na engenharia mecânica, a robótica.
Tive oportunidade de conviver com Guenther em muitos momentos de sua produtiva militância política, em especial na década de 1980. Fui moderador de debates envolvendo candidatos, um deles na sede da Federação dos Trabalhadores no Comércio de Santa Catarina (Fecesc), em Florianópolis, quando ele disputou o Governo do Estado, em 1986, contra Pedro Ivo (PMDB), Vilson Kleinübing (PFL) e Amílcar Gazaniga (PDS). Personalidade marcante, coerente e inteligentíssimo, manteve-se vinculado ao PT, mas distante dos processos eleitorais diretos.

Ela vai voltar?

A novidade da semana está na anunciada disposição da ex-prefeita Angela Amin disputar a eleição de 2008 em Florianópolis. A informação surgiu hoje, na coluna de Moacir Pereira (Diário Catarinense). Angela, que exerce mandato de deputada federal, não tinha ainda se manifestado claramente sobre essa possibilidade, mantendo relativa distância das brigas paroquiais.
A voz corrente no PP, partido da ex-prefeita, é que a Operação Moeda Verde alterou completamente o quadro político-eleitoral em Florianópolis. O enfraquecimento da atual administração é visível e pode levar Dário Berger a repensar sua carreira.

Se Angela for mesmo candidata, o governador Luiz Henrique da Silveira vai concentrar todos os seus esforços em 2008 na capital catarinense. LHS já tem pesadelos até em sua cidade-base, Joinville, onde a estrela do deputado federal Carlito Merss (PT) cresce cada vez mais. Carlito nunca escondeu de ninguém que o sonho de sua vida é ser prefeito da maior cidade catarinense. Para desespero de Luiz Henrique, que só quer conversa com o PT no município de Itajaí.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Dúvida

Se não for homônimo, o motorista do Corolla que morreu hoje no Sul do Estado, vítima de grave acidente, deve ser o professor da UFSC Raul Guenther, que foi candidato ao Governo de Santa Catarina, em 1986, fazendo 50.139 votos. Naquela eleição, o vitorioso foi Pedro Ivo Campos (PMDB). Sendo Guenther mesmo, a UFSC perdeu um de seus maiores pesquisadores na área de engenharia mecânica.

A Gaivota

Escrevi sobre "Gaivota" [o correto é "A Gaivota"] no post anterior, a música que Gil compôs enquanto esteve preso em Florianópolis. A letra, conforme o site oficial do artista, é esta:

Gaivota menina
De asas paradas
Voando no sonho
D’aguas da lagoa
Gaivota querida
Voa numa boa
Que o vento segura
Voa numa boa
Gaivota na ilha
Sem noção da milha
Ficou longe a terra
Gaivota menina
Gaivota querida
Voa numa boa
Que o alento segura
Voa numa boa
Gaivota, te amo e gaivotaria sempre em ti
Gaivotar seria poder te eleger para mim
Eu te quero, e se fosse o caso, quereria mais ainda
Ser, eu mesmo, gaivota sobre mim
Sobrevoar meus temores, meus amores
E alcançar o alto, alto, o mais alto dos teus sonhos
Dos teus sonhos de subir
De subir aos ares
Gaivota querida
Gaivota menina
Pousa perto de mim
[in Refavela e O Viramundo]

© Gege Edições Musicais ltda (Brasil e América do Sul) - Preta Music (Resto do mundo)

A revolução que Beto nos trouxe

Muito grato à leitura do fim de semana e aos comentaristas que apareceram aqui e lá na versão antiga. Ainda impossibilitado de me dedicar ao blog, por causa de compromissos externos, deixo algumas observações sobre aquela matéria da Manchete:
1 - Beto Stodieck, citado na reportagem, era realmente um revolucionário - nos dois sentidos do termo, o amplo e o restrito. Por isso, era "marcado" por alguns conservadores da época. Mas graças ao Beto nós evoluímos muito. Nos tornamos inclusive mais modernos. Diria que ele e sua trupe - Rômulo, Max, Peixoto, Dete Piazza, entre outros - promoveram uma segunda revolução modernista em Florianópolis. Eles incomodaram muita gente que ainda resistia às mudanças comportamentais e culturais na cidade.
2 - Foi a partir de Beto Stodieck - e, depois, também Cacau Menezes e Ricardinho Machado - que a nossa juventude começou a viver uns ares mais cosmopolitas.
3 - A música "Gaivota", referida aqui por um leitor [pseudônimo], foi composta por Gil no cárcere. Mas não chegou a ser um grande sucesso. Se bem me lembro, Ney Matogrosso gravou uma versão bonita. É o caso de resgatarmos essa obra, hoje meio oculta, da discografia de Gil.

Salvação

Em muitas rodas florianopolitanos a discussão dos amigos e conhecidos é centrada num assunto: concursos públicos. Conheço pelo menos uma dezena de pessoas que estão se dedicando com afinco ao estudo para realização das mais diferentes provas. Acham que é uma saída para suas vidas. Uma amiga largou tudo há dois meses e está fechada em casa, se preparando. Vai passar. Tem mais de 40 anos e cansou de "correr atrás da máquina". Quer estabilidade, vale-refeição, vale-transporte, seguro total, convênios de saúde e outras vantagens.
Não questiono ninguém que tenha esse tipo de determinação. Mas temo que no longo prazo muitas dessas pessoas acabem se "encostando" na boquinha e prejudicando a imagem geral que se tem do serviço público. O lado positivo, no meu entendimento, é que esses pretendentes a cargos públicos pelo menos estão se submetendo aos exames necessários. Não entram pela janela, como os mais de 10 mil comissionados que o Governo Federal mantém - com o nosso dinheiro - há quatro anos e meio.

sábado, 21 de julho de 2007

Um vexame histórico [Parte 1]

Fac-símile da primeira página da reportagem que a Manchete publicou em 24 de julho de 1976

Há 31 anos, em julho de 1976, Florianópolis emplacou manchetes dos principais jornais nacionais, por conta de um episódio que entrou para o folclore cultural brasileiro. Foi a lendária prisão do cantor Gilberto Gil, num quarto do hotel Ivoram [hoje Centro Sul], na Avenida Hercílio Luz, coração da cidade. Gil foi em cana porque portava um cigarro de maconha para consumo próprio. Vivíamos o auge da ditadura militar. Poucos meses antes, o operário Manoel Fiel Filho tinha sido assassinado no cárcere do Doi-Codi, em São Paulo. Mesmo destino infeliz que teve o jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975. No clima do arbítrio, qualquer delegado de polícia ou inspetor de quarteirão se sentia o máximo – tinha sempre de arranjar um motivo para revelar sua “autoridade” e intimidar a população de modo geral. No caso de Gil, a intenção clara do autor da prisão – o mítico delegado Elói Gonçalves de Azevedo – era atingir a juventude local. Aquela juventude sobre a qual escrevemos outro dia, quando publicamos aqui umas partes do suplemento Brazil, Capital Desterro, editado pelo jornal O Estado em 14 de maio do mesmo ano.
Mas deixemos falar a História. Remexendo nos meus arquivos, encontrei a revista Manchete de 24 de julho de 1976, com o relato fiel dos patéticos acontecimentos. É uma crônica bem-acabada sobre Florianópolis da época, destacando alguns personagens importantes da cidade. Texto de Tarlis Batista, fotos de Paulo Dutra [um mito do jornalismo catarinense], Rivaldo Souza [tragicamente falecido aos 34 anos, em 1989] e Paulo Leite. A reprodução, daqui para baixo, é integral, dividida em quatro partes, para facilitar a leitura.

GILBERTO GIL
“Eu não sabia que era crime fumar maconha”


A intenção do delegado Elói Gonçalves de Azevedo não era a de prender os Doces Bárbaros – Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Betânia – por porte ilegal de maconha. Quem o policial queria ver atrás das grades era o jornalista Beto Studieck (sic – a grafia correta é Stodieck), do jornal O Estado, de Florianópolis. Antes do horário estipulado pela lei para efetuar a invasão de um domicílio suspeito, ele entrou no apartamento do jornalista e nada encontrou. Para não perder a viagem, reuniu a equipe e rumou para o Hotel Ivoram, onde não só os Doces Bárbaros estavam hospedados, como os seus técnicos, músicos, empresários e acompanhantes. Após se identificar na gerência e conseguir a relação dos hóspedes, o delegado e a equipe passaram à ação. O primeiro apartamento vistoriado foi o 306, de Gilberto Gil.
– “Nós batemos à porta. Quando o cantor respondeu, falamos que era da gerência – conta o delegado Elói. – Gil veio atender, perguntou qual era o assunto. Me identifiquei e revelei as razões que me levavam a fazer uma revista no apartamento. Sem se perturbar, o cantor abriu a porta, mandando que entrássemos. Procedemos ao exame dos armários e roupas. Quando encontramos na carteira o cigarro de maconha, perguntamos se ele era o dono da carteira e do cigarro. Sem perder a calma, Gil respondeu afirmativamente. Disse ainda que sabia ser ilegal o porte e a venda, mas a maconha era para o seu uso. Dei-lhe voz de prisão. Fomos revistar outros quartos. O seguinte foi o de Gal Costa. Ela não estava. A moça que ali encontramos disse que ela havia dormido no apartamento de Maria Betânia. Seguimos para o quarto de Caetano Veloso. Percebendo que éramos da polícia, Caetano começou a gritar por socorro. Quando se acalmou, pediu desculpas, dizendo que ainda estava sonhando. Examinamos o seu quarto e encontramos um vidro de Valium. Ele disse que o mesmo tinha sido comprado com uma receita médica, o que mais tarde foi comprovado.”
No apartamento 406 encontraram Maria Betânia e Gal, que também estavam dormindo e receberam os policiais vestindo trajes bastante sumários. Maria Betânia ficou tranqüila, enquanto Gal reclamava da maneira como haviam invadido o apartamento.
Ali encontraram Pó de Pemba e outros materiais usados por Betânia no culto da sua religião. Na dúvida, recolheram tudo para exame de laboratório. No apartamento 308 encontraram não só alguns cigarros (baseados), como uma boa quantidade de maconha prensada, que “daria para mais uns 30 ou mais cigarros bem feitos”. Os suspeitos e flagrados foram colocados no apartamento de Caetano Veloso. No final, só Gilberto Gil, Chiquinho e Djalma foram conduzidos até a delegacia para serem autuados.
[Pergunta do repórter] – Foi pura intuição que o levou até o apartamento dos artistas ou havia alguma denúncia?
– “Tudo começou dois dias antes – respondeu o Dr. Elói. – Encontrando um informante na Praça XV de Novembro, indaguei sobre a apresentação dos artistas em Curitiba. Disse-me ter tido a impressão que eles haviam se apresentado completamente chapados, ou seja, dominados pelo tóxico. Li, não sei onde, há algum tempo, que Maria Betânia e Gal Costa haviam tido problemas com a polícia por porte ilegal de maconha. Reuni a minha equipe e ficamos de sobreaviso.”
Na manhã de terça-feira começou a repressão. A polícia preferiu dirigir suas atenções para os que residiam em Florianópolis e já vinham sendo observados. Foi o caso do jornalista. A visita de Caetano na tarde de terça-feira a um médico seu amigo (que já esteve envolvido num flagrante de porte de maconha) foi a razão para colocar não só o cantor como também o médico sob suspeição. Nada conseguiram apurar a respeito de Caetano, Betânia e Gal. Gilberto Gil, separado do grupo, esteve numa comunidade hippie na Barra da Lagoa. Na opinião dos policiais, ali aconteceu uma sessão de vaposeiros, que só não foi flagrada por ter sido realizada num local bastante devassado, permitindo a identificação de um dos comissários pelos hippies. “Desfizemos o grupo e resolvemos voltar na manhã seguinte, tentar os flagrantes”.

Um vexame histórico [Parte 2]


Os Doces Bárbaros, reunindo Gil, Betânia, Caetano e Gal, em Florianópolis. Foto original da revista Manchete

Ninguém contesta, na cidade, a ação dos policiais. No Senadinho, centro gerador de fofocas de Florianópolis, na Rua Felipe Schmidt, o delegado Elói Gonçalves de Azevedo passou a ser chamado de Pavão Misterioso. Foi a maneira encontrada pelos xerifes do Senadinho para condená-lo por ter colocado numa cela comum, medindo 2 por 4 metros, um bacharel em administração de empresas, que tinha direito a prisão especial. Não só por isso mas, também, por ter convocado a imprensa e tentar convencer Gilberto Gil a se deixar fotografar dentro do cubículo em que foi recolhido.
– “Se fizermos uma pesquisa, vamos chegar à conclusão de que 80 por cento dos habitantes da cidade não receberam muito bem a prisão do cantor. Outros 20 por cento não tomaram conhecimento ou não vão querer dar sua opinião” – diz o prefeito de Florianópolis, Esperidião Amin Helou Filho. E o comentário nas ruas é de que Curitiba entregou um abacaxi para Florianópolis. Desejando se promover, o delegado resolveu descascá-lo, criando um tumulto.
O policial mostrou vários processos onde está envolvida “gente famosa dentro e fora do Estado, que já foi presa e recebeu o artigo II da lei antitóxicos, número 5.726, de 20 de outubro de 1971”, que permite o recolhimento a um hospital por tempo indeterminado, mas suficiente para a recuperação do paciente. Ela só foi aplicada no caso de Gilberto Gil por decisão do juiz Ernani Palma Ribeiro, admirador do juiz carioca Eliezer Rosa, pai de sete filhos, que autorizou a liberdade, sob custódia, de Gil e Chiquinho para que o show programado não deixasse de ser apresentado.
– “Confesso que fiquei impressionado com a humanidade do cantor Gilberto Gil, quando ele se apresentou para prestar depoimento. Era um homem que reconhecia a sua transgressão e admitia, publicamente, o erro praticado. Não só isso, como o vício de fumar maconha.”
Perante o juiz, Gil declarou que havia começado a fumar maconha há oito anos, numa fase de ansiedade aguda. Disse desconhecer que o ato de fumar maconha representava um crime, embora sabendo que o tráfico e o porte eram passíveis de punição. Justificou também o vício como “uma maneira de melhor atingir uma introspecção mística necessária para se concentrar”. Não fez segredo de ter provado LSD no período em que morou em Londres, mas que não havia se tornado um dependente. Chiquinho, por sua vez, “confessou ser viciado em maconha e revelou desejar abandonar o vício”.
– “Com essas informações, determinei o internamento de ambos, designando o Dr. Pedro Largura, diretor do Manicômio Judiciário, para apresentar um diagnóstico sobre as condições dos dois na próxima segunda-feira.”
Quanto à hipótese do processo ser transferido para uma outra cidade, não existe a menor possibilidade. Ele tem que correr na cidade onde o delito foi praticado. Embora não podendo revelar o seu diagnóstico, o Dr. Pedro Largura é favorável ao internamento de Gil e Chiquinho, devendo fazer essa recomendação ao juiz Palma Ribeiro. A Promotoria, através do Dr. Valdomiro Baroni, não deverá criar obstáculos, recorrendo da sentença, caso seja essa decisão do juiz Palma Ribeiro, “considerando que o Poder Público tomou as providências cabíveis no caso, ficando o restante para ser cuidado pelos médicos.”
– E você, Gil, como recebeu tudo o que está acontecendo?
– “Não tenho imunidades para portar e fumar maconha, pelo simples fato de ser cantor conhecido e representar alguma coisa em termos culturais para o Brasil. Estou naquela de dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Sou responsável por tudo o que está me acontecendo e terei contas a prestar unicamente a meu filho. Não tenho problemas de culpa. Eu uso a maconha e sabia que portá-la era um crime. Desconhecia que fumar também era um crime.”

Um vexame histórico [Parte 3]

Caetano Veloso em Florianópolis: a polícia local também queria incriminá-lo, mas não encontrou provas

“Como todos não pensam assim, tenho que aceitar as coisas como elas estão se apresentando. Acho, no entanto, que já era tempo de se começar um estudo mais profundo da questão. Não estou fazendo apologia do uso da maconha – é mais uma questão da personalidade do indivíduo. Não defendo, volto a repetir, a maconha. Eu a uso. Como poderia também usar cigarro ou o álcool. Só não consigo entender como é que um indivíduo que pratica um crime sob o efeito do álcool tem atenuantes, e o que pratica o mesmo crime sob os efeitos da maconha tem agravantes. Essa vem sendo a tônica dos encontros com o Dr. Pedro Largura, uma pessoa fascinante. O fato de tê-lo encontrado já justifica tudo o que me aconteceu.”
– Por que você não pediu que fosse colocado numa prisão especial, tendo em vista o seu grau universitário?
– “Na hora em que o delegado fez a minha qualificação, revelei ser portador de um diploma universitário. Não adiantou nada. Acredito que ele estava querendo fazer-me passar pelas situações mais degradantes possíveis e não levou em consideração esse detalhe. Mas não estou aborrecido. Ele está agindo dentro dos seus padrões e quem sou eu para condená-lo? E mais, essa não é a questão mais importante no momento.”
– E os Doces Bárbaros?
– “Se a Justiça conceder a liberdade para seguir trabalhando, ainda que sob custódia ou sursis [não conheço muito bem essas questões jurídicas], os Doces Bárbaros deverão continuar o seu plano e o trabalho interrompido aqui em Florianópolis. Pelo que está me sendo possível observar, será muito mais cedo do que muita gente imagina.”

Um vexame histórico [Parte 4]


O músico Chiquinho, que “também pegou cana”, em foto original da revista Manchete

Gilberto Gil e Chiquinho, até o início desta semana, ocupavam o apartamento 16 do Hospital São Sebastião, perto do centro de Florianópolis. A decisão foi do juiz Palma Ribeiro, que exerce um controle das visitas que os dois artistas recebem. Mas todas as facilidades lhes são concedidas para que possam entrar em contato com os seus parentes e amigos. Roberto Carlos telefonou do México oferecendo seu advogado para cuidar dos assuntos de Gil. O mesmo fez Sílvio César, que é advogado.
– “Há males que vêm para bem – diz Gilberto Gil. – Essa hospitalidade eu já conheci, mas não sabia ser tão grande. Foi por isso que eu e Caetano insistimos tanto em fazer a apresentação em Florianópolis. E tudo o que está acontecendo comigo não modificou em nada a admiração que sentia antes. Pelo contrário, jamais irei esquecer a pessoa do juiz Palma Ribeiro, pelo seu equilíbrio, e do Dr. Pedro Largura, pela sua inteligência, sensibilidade e compreensão.”

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Um deboche inominável

Como não poderia deixar de ser, o flagra da Globo - mostrando o gesto obsceno de uma alta autoridade da República - emplacou todos os noticiários da madrugada e da manhã. Não houve quem não condenasse Marco Aurélio Garcia. O cientista político Bolivar Lamounier chegou a afirmar que o caso é para demissão pura e simples. Nem um pedido de desculpas de Garcia e do assessor de imprensa Bruno Gaspar pode consertar o estrago feito. Os dois petistas não só desrespeitaram a memória dos mortos e a dor das famílias. Eles debocharam escancaradamente de toda a Nação brasileira. Rua pra dupla, antes que o castelo de Lula desabe de uma vez por todas.
P.S.1 - Pra quem não viu, a coisa nojenta está AQUI.
P.S. 2 - Estamos todos sem muito senso de humor ultimamente. Mas Garcia e Gaspar poderiam formar uma dupla caipira de "catigoria" para cantar no Faustão a "Moda do Sifu". Na pior das hipóteses, dariam uma macabra Videocassetada. Chega. Não tenho mais paciência para escrever sobre esses cretinos.

A grosseria de um dândi petista

Marco Aurélio Garcia é considerado um assessor 'raivinha' do Governo Federal, homem de confiança do presidente Lula, uma espécie de eminência parda, um dândi insuportável.Ao saber pelo noticiário da Globo que o avião da TAM poderia ter tido um problema mecânico - mais uma suposta razão para o desastre da última terça-feira -, Garcia foi flagrado num ato gestual de péssimo gosto, conhecido como "top-top": uma mão fechada contra a palma da outra mão. Ou, em português grosseiro, uma coisa como "vocês [que colocavam a culpa no governo] sifu".Na imagem divulgada pelo Jornal da Globo, ainda apareceu o assessor de imprensa Bruno Gaspar fazendo outro gesto grosseiro, com o mesmo sentido: braços esticados, da frente para trás, como se estivesse remando ou...
* * *
Garcia e o outro idiota pedirão desculpas pela estupidez e pelo desrespeito ao povo brasileiro?Talvez não. Ao contrário de Marta Suplicy, que teve um pingo de decência em reconhecer seu erro, esses dois são cretinos.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

A praia

A praia do foto-teste é mesmo Jurerê, muito antes da urbanização. Também fiz piquenique embaixo daqueles eucaliptos. Belas manhãs e tardes de domingo!

O que dizem por aí

Especulações fresquíssimas sobre a eleição de 2008 em Florianópolis:
* Dário Berger será candidato à reeleição, com fortes indicativos de que concorrerá pelo PSDB [e não pelo PMDB, segundo algumas avaliações correntes];
* Berger terá contra si uma espécie de "força institucional" da cidade. São grupos pensantes e articulados, de variados segmentos, que estão se organizando para apoiar uma candidatura alternativa;
* É possível que Esperidião Amin seja candidato isolado [PP], mas precisará assumir alguns compromissos para obter apoio dessa "força institucional";
* Essa "força" - sobre a qual não posso expor mais detalhes, porque a informação me veio em off - pode apoiar nomes que tenham vínculos fortes com a cidade e que não tenham aparência de aventureiros;
* César Júnior e Paulinho Bornhausen são citados informalmente como virtuais pré-candidatos do DEM [ex-PFL];
* Uma candidatura alternativa com chances de fazer bonito pode surgir da junção de pequenos partidos, entre os quais o PPS e o PCdoB;
* Se Berger for candidato, o PMDB estará com ele na chapa. Luiz Henrique aposta todas as suas fichas no atual prefeito, porque é a única garantia que tem para evitar uma vitória que não lhe interessa [Amin, alguém do DEM ou de uma coligação de esquerda].

FOTO-TESTE


Uma praia da Ilha de Santa Catarina para combinar com o dia de hoje... O teste: que balneário é este? Dica: a foto não tem nada a ver com a atualidade. É um cartão postal Edicard, impresso no início da década de 1980. Para apreciar a imagem num tamanho um pouquinho maior é só clicar na própria. [O mais incrível é que ainda se pode comprar cartões como este em sebos de Florianópolis a R$ 0,25 cada].

Abrindo uma "filial"

Alguns leitores já devem ter reparado que este blog está migrando para novo endereço [este aqui]. É uma mudança lenta, motivada pela falta de recursos interessantes no Uol [nosso endereço desde 2004] e também porque este que vos escreve não domina [e não pretende dominar] qualquer conhecimento básico sobre html.
Assim, por parecer mais fácil lidar com o sistema Blogger, optei por abrir aqui uma "filial" do blog, com o conteúdo idêntico, porque há mais ferramentas e modelos [templates] mais dinâmicos e bonitos.
Os leitores que quiserem mudar o direcionamento [alterar o acesso na lista de favoritos] para esta "filial" já podem fazê-lo. Quem preferir continuar no antigo, não se preocupe: vou manter as duas páginas por mais algum tempo, até que todos os leitores tenham migrado para o novo endereço.

Cautela, como sempre

Parece-nos claro que o desastre com o avião da TAM vai render meses e meses – talvez anos – de longas análises, discussões, processos etc. e tal. Infelizmente, pode não ser o último, apenas o mais grave acidente da História da aviação brasileira.
Quase todos os analistas, inclusive os técnicos, são unânimes em dizer que não há como afirmar com certeza que a causa foi esta ou aquela. De fato, até agora, temos duas centenas de mortos e a incrível seqüência de 20 segundos exibida pelo Jornal da Globo, há pouco, mostrando o avião em alta velocidade na pista do aeroporto de Congonhas. São duas coisas concretas. O resto é especulação, interpretação e, muitas vezes, discurso barato.
Portanto, lamentemos a tragédia e seus mortos. E aguardemos os laudos oficiais, que certamente demorarão alguns meses para serem apresentados.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Documento

Recebi da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) o manifesto a seguir. Desnecessário dizer que assino embaixo.

"Manifesto pela responsabilidade

O acidente do vôo 3054, com cerca de duas centenas de mortes, comove e choca o País. Infelizmente não é um caso isolado. É mais um sintoma de uma crise que se arrasta há quase um ano e que ganhou visibilidade para o grande público, lamentavelmente, com outra tragédia - a do vôo 1907, na Amazônia, com 154 vítimas fatais. Tantas outras "quase tragédias" foram noticiadas desde então, levando pânico para quem depende da aviação brasileira. Agora as pessoas pensam duas vezes antes de voar e isso pode resultar em lentidão nas decisões que precisam ser tomadas.

O País assiste a tudo isso atônito. Atordoado com a letargia. Com a inoperância frente à situação. E ela vai muito além das notícias, que muitas vezes parecem inverossímeis de tão graves, sobre uma injustificável crise aérea.

Mais lastimável é o fato de a própria crise aérea ser também apenas o indício de algo que parece estar se generalizando: a displicência com que são tratadas questões prementes. Como se tivéssemos perdido a capacidade de nos indignarmos com o conteúdo que vemos todos os dias no noticiário: a escalada da corrupção, o desrespeito à propriedade privada, a incapacidade de nomear pessoas para ocupar cargos públicos de primeiro escalão ou o comportamento de políticos que devem, mas não prestam explicações à opinião pública.

O mais preocupante nesse quadro é a sensação de falta de comando. As crises que vivemos precisam de solução. O País lutou muito para construir suas instituições e a credibilidade delas está em jogo.

Alcantaro Corrêa

Presidente do Sistema Fiesc"

Inverno na Ilha

Num intervalo de trabalho, fui à janela e captei esse panorama aí, com o vento Sul aumentando suas rajadas geladas.

Retrospectiva

Na retrospectiva dos acidentes aéreos ocorridos no Brasil, a Folha de S. Paulo recuou até 1958, justamente ao desastre com um Convair da Cruzeiro, que caiu no Paraná e matou 21 pessoas – entre as quais os catarinenses Jorge Lacerda, Nereu Ramos e Leoberto Leal.
Na relação da FSP também é lembrada a queda do Boeing 727 da Transbrasil, em Florianópolis, no dia 12 de abril de 1980. Foi o pior acidente do gênero ocorrido em Santa Catarina, matando 54 pessoas. Naquele vôo estavam algumas personalidades importantes do Estado, como os médicos Rômulo Coutinho de Azevedo, Antônio Carlos e Lea da Nova, o professor Nelson Nunes, o economista Aristeu Rosa, duas filhas de Antônio Koerich (o boss das Lojas Koerich) e três irmãos da família Bittencourt (tios do presidente da Câmara de Vereadores da Capital, Ptolomeu Bittencourt), entre outras pessoas.
A matéria completa da Folha está AQUI.

A culpa

Num rápido giro pela cidade, conversei com cinco ou seis pessoas conhecidas sobre o acidente com o avião da TAM. Convicção generalizada: a culpa é do governo. É óbvio que ninguém pode concluir tal coisa de uma forma definitiva, sem que se tenha conhecimento mais aprofundado da questão. Mas a sentença popular, pouco importam as causas diretas do desastre, é de que faltou pulso ao Governo Federal para resolver a crise aérea no País. Desde o acidente da Gol, em setembro do ano passado, o que se viu foi muito mais "discurso pra platéia" [o velho populismo em ação] do que medidas efetivas para solucionar o apagão.

Ironia

Uma das vítimas do acidente da TAM, a catarinense Simone Lacerda Westrupp, era neta do ex-governador Jorge Lacerda. Ironicamente, o avô também morreu num acidente aéreo, em 1958, em pleno exercício do mandato, junto com o senador Nereu Ramos e o deputado Leoberto Leal. A informação sobre o parentesco da moça, advogada de 28 anos, foi divulgada há pouco no Debate-Diário (CBN-Diário), do qual participam Roberto Alves, Miguel Livramento, Paulo Brito e Renato Senensati (não sei se é assim que se escreve o sobrenome do comentarista esportivo).

A aviação condenada

Não faz muito tempo, ouvi na CBN-Diário uma polêmica sobre fechamento de aeroportos. O repórter havia informado que o nosso Hercílio Luz teria fechado para pousos e decolagens por causa do mau tempo etc. e tal. E alguém da Infraero respondeu com agressividade, porque, em tese, nenhum aeroporto bem-equipado precisa ser fechado em razão das más condições meteorológicas. Em outras palavras, para a Infraero não existem limites para pousar e decolar.
Por tudo o que ouvi e vi de ontem para hoje, sobre o desastre com o avião da TAM em São Paulo, só posso deduzir – como milhões de brasileiros – que um aeroporto naquelas condições não poderia estar funcionando naquele horário, sob chuva forte.
Até podemos admitir que tenha havido falha humana [por parte do piloto ou de algum controlador], mas devemos acreditar que, num país sério, o órgão similar à Infraero não teria permitido a continuidade das operações do aeroporto.
Há muito que ser discutido sobre o assunto. O acidente com o Boeing da Gol foi há dez meses e o assunto não se esgotou até hoje. O que esperamos é que essa gente que governa o País pare de fazer política tentando provar que está tudo bem com o sistema aéreo brasileiro, quando não está.
Chega! E não venham com o papo furado de que o acidente de ontem foi uma “fatalidade”. Não foi. Foi uma irresponsabilidade de quem não fechou Congonhas para pousos e decolagens num dia de chuva e sem pista adequada para os procedimentos.

Visita cancelada

Confirmado há poucos instantes: o presidente Lula não mais virá ao Sul do Brasil nesta quarta-feira [ele tinha agenda em São José-SC na quinta], em função do grave acidente com o avião da TAM em São Paulo.

Dá para entender

Vendo as fotos do acidente com o avião da TAM, principalmente as panorâmicas, fica fácil entender [ou não entender] por que Congonhas é considerado, há muitos anos, como um dos aeroportos mais perigosos do Brasil. Uma pista que termina às margens de uma avenida movimentadíssima e a poucos metros de residências e edifícios é coisa que não dá para compreender ou aceitar. Fosse num terreno adequado, com área de escape, talvez a história do desastre fosse outra. Faz muito tempo que Congonhas está superado. Quando morei em São Paulo, na década de 1980, tinha uns amigos que moravam nas proximidades [Jabaquara]. Os aviões voavam baixo e o barulho era sempre ensurdecedor - impossível conversar, ver televisão ou ouvir música. Por que permitiram que o aeroporto continuasse operando tantos anos? Quem são os responsáveis?

terça-feira, 17 de julho de 2007

Nome

Matéria divulgada no Clic RBS grafou assim o nome de um desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina: Jorge Mousse. Não seria o doutor Jorge Mussi, ex-presidente do próprio TJ?

Clima

Parece bem pior o clima entre a Justiça Federal e o Ministério Público Federal em Santa Catarina. O juiz Zenildo Bodnar suspendeu o procurador-chefe Walmor Moreira do processo conhecido como Operação Moeda Verde. A razão seria um recurso impetrado pelo empresário Paulo César Maciel da Silva [Iguatemi]. A informação foi divulgada há pouco, na CBN-Diário, pelo colunista Moacir Pereira.

Choque de realidade

Hugo Chávez é popular, mas não é unanimidade.
Fidel Castro é popular, mas não é unanimidade.
Evo Morales, idem, idem.
Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra.
Lula pensou que era amado por todos.
Lula vivia num conto de fadas. A vaia lhe deu um choque de realidade. É bom pra ele e pro País.

A penúria da família real

Ivan Lessa é um dos prodígios da imprensa brasileira. Quando menino, eu comprava O Pasquim para ver as charges de Jaguar e Henfil e ler o que escreviam Lessa e Paulo Francis. Diria, sem medo de errar, que muito da minha formação cultural se deveu à leitura semanal do Pasquim, que me proporcionou, num tempo muito difícil [ditadura militar, censura, livros escassos, nada de internet] uma visão interessante e crítica da realidade.

* * *

Pois redescubro Ivan Lessa no site da BBC-Brasil. Não é que ele continua me encantando com seus textos enxutos e extremamente bem-elaborados? A crônica de ontem [ele publica de dois em dois dias] está AQUI. Trata da súbita penúria em que vive a família real britânica, por causa dos altos custos de manutenção daquela aparência toda.

* * *

Acabei, inevitavelmente, fazendo um paralelo com o Governo Federal brasileiro. Melhor dizendo, com a família real lulista, a corriola toda incluída. Pois o Lula não andou defendendo, outro dia, o aumento dos impostos? Parece-nos claro que ele andou sabendo dos problemas financeiros da realeza britânica...

MEMÓRIA

Vista geral de Florianópolis, em registro da Paraná Cart [Fotografia de José Guinart], número de referência GT-89. A imagem provavelmente foi registrada na primeira metade da década de 1960. Comprei o cartão postal num sebo. No verso está escrito: "Ao meu amor, carinhosamente, Ary".

Fora do ar

Li no blog do Ricardo Noblat que o comercial “Relaxa e Compra”, da Peugeot, foi retirado do ar a pedido do próprio presidente Lula à montadora francesa.
Credo em cruz: nem senso de humor essa gente tem mais?
O comercial utilizava um ator do Casseta & Planeta, vestido igualzinho a Marta, e recomendando a compra dos carros da marca Peugeot. Não era lá essas coisas, mas certamente um pouco bizarro.
Como bizarra foi a frase da ministra Marta Suplicy quando se referiu aos passageiros de linhas aéreas no Brasil.

Separação difícil

Prosseguem as interpretações e discussões sobre as vaias a Lula na abertura do Pan [a gravidade do assunto é manchete de O Globo de hoje]. O mais incrível é que muitos dos “intérpretes” não aceitam que Lula possa ser criticado com vaias. Parece-nos que há um sentimento autoritário inequívoco envolvendo os seguidores do presidente.
Mas é claro que não podemos nem devemos desrespeitar a instituição Presidência da República, encarnada por Lula. No Brasil, no entanto, as coisas andam tão ruins – sob pontos de vista diversos, do econômico ao político-social – que fica difícil separar educação [que não é aceitação, mas respeito] de desaprovação.
E mais: é preciso entender que Lula não é Deus e que, ao contrário do que dizem alguns parlamentares petistas, quem vaiou não é necessariamente um público “conservador”. Até porque, segundo sabemos, o presidente nunca foi “de esquerda”.

CLAQUE

Lula vem a Santa Catarina depois de amanhã. Mais exatamente a São José, cidade vizinha de Florianópolis. A região é governada pelos tucanos e peemedebistas, notórios inimigos do PT no Estado. A saber se a claque petista vai comparecer à solenidade no Centro Multiuso para garantir os aplausos.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Tristeza

Lula disse que ficou triste com a vaia recebida na abertura dos Jogos Panamericanos. Nós também.

A alta renda de LHS

Nosso governador disse hoje pela manhã que "Florianópolis é vocacionada para o turismo de alta renda". Pois a solução é muito simples: que se expulsem os pobres da capital catarinense, para que os turistas da tal alta renda não passem vergonha quando aparecerem por aqui. Luiz
Henrique tem conceitos estranhos. Segundo o Clic, ele perguntou se as pessoas que vivem em Florianópolis não viajam para o exterior, não vêem como é que as coisas funcionam lá fora. "Será que ninguém vê como o mundo desenvolvido se desenvolve?". Tenho a clara desconfiança de que o nosso governador vive em outro mundo. Ele não está preocupado com as pessoas que moram em Florianópolis, mas com a tal alta renda. É coisa de nouveau-riche mesmo.

Perguntinha

Recesso é tempo de penitência para os maus políticos?

Respostinha

Para a cidadania, recesso é tempo de temor.
Mas nós não vamos esquecer...

Mais leitores

Saudações ao caro amigo Magru Floriano, de Itajaí. Grande Magru! Grato pela recomendação. Também estou mandando ver por aqui [o link para o blog do Magru é ESTE]. Ele é jornalista, escritor e professor da Univali. Uma das cabeças iluminadas daquela cidade praiana.
Abraços também a outros leitores não citados na semana passada: Gley Sagaz, sempre presente; Josué Lange, o amado da Ana Júlia; e ao Ilton, que mantém um iluminado blog a partir de sua base, Porto Alegre.

domingo, 15 de julho de 2007

Aderbal Ramos da Silva [ao centro], dentro da redação de O Estado, com o então governador Esperidião Amin. À esquerda, o editor-chefe do jornal e biógrafo de ARS, jornalista Luiz Henrique Tancredo. Não tenho a data em que a imagem foi registrada nem o nome do fotógrafo. Amin governou o Estado entre 1983 e 1987. Aderbal morreu em fevereiro de 1985. Logo, não é difícil estimar a data.

Lições de política [1]

Para encerrar a página com Aderbal Ramos da Silva no Brazil, Capital Desterro [O Estado, 14 de maio de 1976], selecionei alguns trechos interessantes para a degustação dos caros leitores. Depois de morar quatro anos no Rio de Janeiro, onde cursou a Faculdade de Direito, o jovem ARS voltou à Ilha de Santa Catarina em 1932 e foi trabalhar no escritório de seu tio, Nereu Ramos. O ambiente – a família era apaixonada pela atividade política – acabou conduzindo Aderbal ao destino inevitável: candidatou-se a deputado estadual em 1934, sendo vitorioso. Ele contou no depoimento a Elaine Borges, Murilo Pirajá Martins, Luiz Paulo Peixoto e Rômulo Coutinho de Azevedo:

– Os arquivos destas eleições estavam depositados no antigo prédio da Assembléia que, como é do conhecimento geral, sofreria, anos depois, o fenômeno da combustão espontânea. Foi realmente lamentável não terem tido o cuidado de retirar os documentos antes do incêndio. Iniciei ali uma carreira que não terminou até hoje [1976], a de político, apesar de estar há muitos anos fora de qualquer cargo público. Política para mim é uma coisa muito séria. Uma atividade fundamental. Fazer política, na minha opinião, é participar da vida da comunidade, é participar efetivamente, é manter um diálogo permanente com o povo. Acho que todos deveriam participar da política. Entre os empresários, principalmente os daqui de Santa Catarina, é muito raro qualquer interesse por política. Eu lamento muito isto porque é uma pena que haja tanto alheamento. Os jovens, os estudantes, costumam criticar muito os governos. Eu acho que isto é uma coisa própria da juventude. Mas não seria melhor se, ao invés de criticar, procurassem construir? Fala-se mal dos partidos. Por que não entrar neles e transformá-los?

– Em 1945, com o fim do Estado Novo, surgiram os partidos nacionais e ajudei a fundar o PSD. A UDN também é dessa época. Aliás, é bom lembrar que ambos resultaram da união de forças que já existiam latentes desde muito antes, antes mesmo de 1930. Vieram as eleições e fui eleito deputado à Assembléia Nacional Constituinte. Assinei a Constituição de 1946, como já havia assinado a estadual de 1935.
Fiquei só um ano como deputado.
A 19 de janeiro de 1947 fui eleito governador. Governei até 1951, mas passei um ano afastado de meu mandato para tratamento de saúde.
Meu governo foi tranqüilo. Dutra era o presidente e o país vivia em calma. Do Palácio, realizei algumas coisas que acho importantes, principalmente para Florianópolis. Tenho orgulho de ter dado água e luz para a cidade, numa época em que os racionamentos eram constantes. As crianças estudavam à luz de velas ou lampiões, imaginem. Foram assim resolvidos dois problemas realmente graves. Florianópolis ainda era encantadora na época. Eu sou um enamorado da cidade, mas agora estou vendo ela com olhos diferentes. Está tudo muito tumultuado, os terrenos supervalorizados pelas imobiliárias, tudo ficando estrangulado. Antes não havia muita diversão, havia poucos cinemas, e a idade também ajudava, é claro. No meu tempo de governo, eu costumava caminhar pelas ruas, sentava-me nos bancos do jardim, tomava cafezinho com os amigos, recebia no Palácio quem quer que quisesse conversar comigo. Eu não precisava do ordenado de governador e mandava distribuir esse dinheiro entre os pobres.
No final de cada mês, o Palácio mais parecia um pátio de milagres. Hoje tudo está muito diferente, é natural.
– Eu me considero um homem alegre, gosto de conversar, contar anedotas, tenho facilidade de comunicação e acho que isto foi a base principal de meu êxito na política. Posso dizer com orgulho que de 1945 a 1970 não perdi nenhuma eleição em Florianópolis. Não pessoalmente. Mas, bem ou mal, eu era o líder. Acho que estas qualidades, esta espontaneidade, são características de todos os povos litorâneos. É só ver a diferença entre São Paulo e Santos, entre Curitiba e Paranaguá. Todo povo litorâneo é bom, aberto, comunica-se bem. Deve ser mesmo o mar. Eu gosto do mar. Certa vez um matuto do interior bateu às portas do Palácio dizendo querer falar comigo. Ele entrou no meu gabinete e eu disse: "Senta aí e me conta o que é que há". Ele então falou que tinha um processo sobre terras que estava demorando muito para ser despachado. Chamei o responsável pelo setor ali, na mesma hora, na frente dele. Quando ele saiu, chamou um dos funcionários e disse: "Me dá um retrato do moço". Um político não pode ser uma pessoa fechada.
Em 1954, candidatei-me ao meu último cargo eletivo. Novamente para deputado federal. Mas não cumpri todo o mandato. Dois anos depois pedi licença e nunca mais me candidatei. Eu não consegui mais viver no Rio de Janeiro. É uma vida agitada demais.

– Dizem que eu faço parte de uma oligarquia. Isto é uma fatalidade. Na verdade, sou fundamentalmente um político. Um político deve ter liderança. Liderança que não poderá nunca ser horizontal, ela tem que ser vertical. Um político não pode ser omisso, dúbio reticente, indiferente. Nunca pode ficar em cima do muro. E deve ter estrela, estrela que funcione. Liderança não se divide com ninguém. Política, repito, é diálogo, o que é um comício se não um diálogo em praça pública? Sei que devo ter errado muitas vezes, mas se errei foi sempre na escolha de homens. Estas foram as minhas grandes decepções: as deslealdades, as fugas ao compromisso, a irresponsabilidade.
É interessante notar que estas decepções só as tive no primeiro escalão. Os humildes sempre me foram leais e honestos.


Observação – O depoimento tem outros trechos, relativos à vida pessoal e ao convívio com amigos. Mas para quem quiser conhecer a biografia completa desse líder político catarinense, há o livro do jornalista Luiz Henrique Tancredo, editado pela Insular em 1998. É uma obra alentada, fundamental para a compreensão da história catarinense no século 20.

De volta a Brazil, Capital Desterro

Voltamos ao suplemento Brazil, Capital Desterro. Paramos na página 25. No alto da página, em letras garrafais, o título: “Dr. Aderbal”. O nome assustava. Por isso, os editores do caderno especial que O Estado publicou em 14 de maio de 1976 capricharam no tamanho das letras. Era para dar a dimensão exata, expressar o gigantismo daquele nome [ainda] poderoso.

Como muitos ilhéus passados dos 45 anos de idade, tive o privilégio de conhecer o dr. Aderbal. Entrevistei-o em duas ocasiões, no Iate Clube Veleiros da Ilha, onde o chefe político passava parte de seus dias. Como já não podia fumar, por causa do enfisema pulmonar, segurava um cilindro de madeira no formato idêntico ao de um cigarro. Não me lembro das matérias que fiz com ele, perdidas nos arquivos dos jornais onde trabalhei. Recordo, no entanto, de suas expressões, de seu sorriso, da fala mansa, do cilindro de madeira entre os dedos.

Ele era uma figura impressionante; mesmo com aquele jeito pacífico de avô, Dr. Deba, como também era chamado, recebia aliados e apadrinhados no Veleiros, para longas conversas e conselhos apropriados. Experiente, ele encarnava à perfeição a imagem de um velho comandante, aposentado, mas ativo. Tinha um feeling incrível.
Descobriu Esperidião Amin Helou Filho sentado atrás de uma escrivaninha da Secretaria da Educação, em 1975, graças a uma indicação do engenheiro agrônomo Glauco Olinger. O fundador da Acaresc [hoje Epagri] destacou as qualidades técnicas [o rapaz era um tecnocrata] de Amin para Aderbal e outros líderes da cidade. A prefeitura precisava de um choque de gestão, não de um político. Amin foi o escolhido, num ritual muito simples: Aderbal ungiu seu nome.
No longo depoimento concedido a Elaine Borges, Murilo Pirajá Martins, Luiz Paulo Peixoto e Rômulo Coutinho de Azevedo, Aderbal falou:

– Sou um ilhéu bem-humorado, enamorado pela cidade e preocupado com seu futuro. Fico tranqüilo de saber que agora ela está em boas mãos. Este rapaz, o Dão [apelido de infância de Esperidião Amin Helou Filho], é muito honesto, leal e competente. Herdou coisas muito ruins, teve que corrigir muitos erros de seu antecessor [Nilton Severo da Costa, ex-diretor geral do Instituto Estadual de Educação]. Ele tem bons planos. Um exemplo é este boulevard que estão projetando para a Felipe Schmidt [calçadão]. Vai mudar a fisionomia da cidade, para melhor. Ainda me espanto com esta cidade, com seu crescimento rápido. Outro dia, estava no Centro e queria uma carona para o Veleiros. Era um dia de vento Sul com chuva e eu achei: “Bem, eu sou uma pessoa conhecida na cidade, não demora passa alguém”. Mas tive que esperar meia hora. Até que passou alguém.

O trecho publicado aqui é o final do depoimento. Escolhi-o por causa da análise que Aderbal fez de Florianópolis e do futuro da cidade.

O início da página – o leitor pode achar que isto aqui está uma bagunça; mas está mesmo – diz assim:

"Durante os últimos 30 anos a política florianopolitana praticamente girou em torno de um único personagem. Político nato, ele soube representar entre nós a figura do chefe hábil e incontestável, presente em todas as horas da vida da cidade e do Estado. Numa manhã ensolarada de abril, de frente para a Baía Sul, o ex-governador Aderbal Ramos da Silva, Doutor Deba ou simplesmente Doutor, prestou a [segue-se a relação dos entrevistadores] o seguinte depoimento":

– Eu sou um ilhéu. Nasci aqui mesmo, no Palácio. O Palácio está muito ligado à minha vida. Nasci nele, fui governador e vou acabar voltando para lá quando morrer. Isso dependendo do inquilino, é claro. Se for esse que está lá atualmente, sei que vou [Antônio Carlos Konder Reis governava o Estado em 1976]. Eu nasci no Palácio porque meu avô era governador. Meu avô era o Coronel Vidal Ramos, avô por parte de mãe, que quando eu nasci estava exercendo seu segundo mandato, de 1910 a 14. Meu pai, que se chamava João Pedro Silva e mais tarde chegou a desembargador, era juiz em Blumenau nessa época. Houve uma enchente, de modos que minha mãe veio se refugiar aqui e acabei nascendo no Palácio da Praça 15, que ainda era a residência dos governadores.
Minha infância foi comum. Em casa me chamavam Deba, apelido que pegou. Até hoje me chamam Doutor Deba. Quem me colocou o apelido foi minha irmã, que não sabia dizer Aderbal e dizia “Debá”. Meus primeiros anos, passei em Blumenau, onde entrei na escola, o Grupo Escolar Luiz Delfino, quando aprendi a ler. Com oito anos vim para Florianópolis e continuei meus estudos ali no Grupo Silveira de Souza; em seguida no Ginásio Catarinense, de onde saí em 1927. Havia completado meus estudos aqui e fui para o Rio um ano depois. Esses tempos eram bons, Florianópolis era um a cidade muito diferente do que é hoje. Tudo mais calmo, mais sossegado. Assisti à inauguração da Ponte Hercílio Luz, que foi o maior acontecimento da época. Eu tinha 15 anos e fui com meu pai. Era um dia muito frio, de muito vento Sul. Quem inaugurou a ponte não foi o Hercílio Luz, que tinha morrido, mas o Bulcão Viana, que era o presidente da Assembléia e governador em exercício. A ponte estava começando a mudar a cidade. Ainda me lembro muito bem de quando a gente tomava a lancha “Valente” para ir ao Estreito. Muitas vezes fiz isto.

[Continua amanhã]

sábado, 14 de julho de 2007

Ainda a vaia

Três adendos à questão da vaia:

1 – O ideal seria que não tivéssemos classe média e descamisados. O ideal seria que todos, indistintamente, tivessem direito a trabalho, renda e felicidade. Mas isso, ainda, é utopia.

2 – A manifestação da platéia pode ser sido um recado repetido n vezes no Brasil e em outros países: “Não misturem esporte com política”.

3 – Também pode ter sido: “Estamos saturados. Chega. Mudem. Melhorem. Sejam humanos”.

Respeito e desrespeito

Respondi nos comentários – ao Roney e ao Ilton – que realmente nós devemos respeitar as instituições, pouco importam quais sejam. Na verdade, os chefes de algumas instituições é que não estão se dando ao respeito.

Vejamos Lula: apesar da “popularidade”, nosso presidente, enquanto chefe de Estado, não passa de um moço bem-intencionado, mas muito deslumbrado. É um nouveau-riche da política. Lula não tem autoridade, não governa, não diz coisa com coisa. Quando abre a boca, defende a cobrança desenfreada de impostos – como fez esta semana –, porque não há outra forma de o governo chefiado por ele sustentar a imensa e ineficiente máquina administrativa [em especial aquelas boquinhas extras, milhares, criadas para abrigar os aliados].

Sem falar no mensalão e tantos outros episódios posteriores, que não escapam aos olhos e ouvidos da classe média, mas que pouco importam àqueles que vivem nos rincões, à espera das bolsas-esmola e outros paliativos populistas.

Vejamos Renan: nem vou perder meu tempo.

Então, quando Lula é vaiado por uma platéia de gente produtiva não há muito que analisar e discutir. Se ele não nos respeita, porque devemos respeitá-lo? [ainda que se reconheça a legitimidade de seu mandato e de seu poder].

Lamento, mas penso que as instituições brasileiras estão a um passo da falência completa. Fato que, por sinal, o Orlando Tambosi vem apontando há muito tempo em seu esclarecido blog.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

FOTO-TESTE

Conhecem? A imagem é de um cartão postal da década de 1960. Publico-a aqui em homenagem a amigos que nasceram nessa cidade. Aliás, também terra do meu avô materno. [Dica: parece claro que não é Florianópolis, pois, pois].

O silêncio dos líderes

As lideranças tradicionais de Florianópolis não dão a mínima para os ataques promovidos pelos josefenses que mandam na prefeitura. Mesmo aqueles políticos que ocupam mandatos eletivos estão quietos, que é para não atrapalhar o andamento dos fatos. O prefeito esperneia, fala mal dos adversários, alega que está sendo perseguido, mas a verdade é uma só: ninguém está dizendo nada, ninguém responde nada. E não estamos tratando apenas do ex-governador Esperidião Amin, mas também de gente do DEM [ex-PFL], PMDB, PDT, PT e outras siglas. Parece que todos combinaram – como se isso fosse possível – para deixar os irmãos Berger esperneando sozinhos na mídia.
Mas é preciso que se esclareça: os que se opõem aos Berger [de todos os partidos citados e também do partido do prefeito, o PSDB] agem nos bastidores, inclusive na Justiça. Parece notório inclusive que os maiores inimigos de Dário não estão no PP, mas no próprio PSDB. Tem muita gente que nunca aceitou sua filiação à legenda fundada por Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso.
Como já dissemos aqui, se Dário não tiver a bênção de Luiz Henrique no ano que vem, dificilmente fará uma boa campanha para a reeleição. Ainda assim, mesmo que tenha a proteção do padrinho, pode ter sua pretensão arranhada pelos desvarios verbais e pelas demandas políticas, administrativas e judiciais.

Analisemos mais:

* Nos momentos de crise, Dário sempre chama o irmão Djalma para ajudar. É o que está acontecendo no momento. Djalma voltou, está dando entrevistas e colaborando para reduzir o tiroteio, mesmo que tenha de colocar mais lenha na fogueira.
* Também apontamos aqui, no início da semana, que Dário teria dificuldades para substituir Ariel Bottaro Filho no papel de conselheiro número um do gabinete. Vai ser difícil encontrar alguém à altura, principalmente alguém que não faça parte da tropa de choque, ou seja, que tenha discernimento e senso da realidade.