Quando escuto falarem em apagão aéreo sempre me lembro do que acontecia comigo, na década de 1980, época em que viajava todos os meses. Conheci quase o Brasil inteiro, graças a um bom emprego que tinha em São Paulo e me exigia viagens constantes. Nunca consegui embarcar num vôo no horário. Os atrasos entre um aeroporto e outro variavam entre uma e três horas; as esperas eram piores ainda nos Estados nordestinos, por causa das férias [julho]. Em 1987 – foi o pior vôo que fiz na vida, por isso guardei o ano – aguardei quase cinco horas no aeroporto de Porto Alegre para voltar a Florianópolis. Havia uma tempestade, entre os dois Estados, que impedia o tráfego aéreo. Mesmo assim, a Infraero autorizou nosso embarque. Entramos no avião. Como sou um sujeito previdente, sempre carreguei uma pequena garrafa de uísque na minha valise. Foi o que me salvou, porque o serviço de bordo havia sido suspenso. Viemos sacolejando de lá até Florianópolis. Quando desembarquei, com as pernas bambas, não sabia se estava travado por causa do uísque ou das turbulências.
Mais ou menos por aquela época decidi que não embarcaria mais em avião. Decisão tola, evidentemente, porque voltei a viajar muitas vezes, algumas delas por necessidade, outras por puro prazer. Em 1994, por exemplo, aproveitei uma ótima oportunidade e fui conhecer a França. Deixei Florianópolis à tarde para embarcar num vôo que sairia por volta de 23 horas do Rio de Janeiro. Feito o check-in, nós aguardamos quase duas horas para embarcar no avião. Maravilha, duas horinhas de atraso não significam tanto quando se tem pela frente quase doze horas de sobrevôo oceânico.
Mas... Uma vez instalados dentro do Boeing da Varig, notamos que havia algo estranho. Ligavam um aparelho, que parecia uma turbina secundária; desligavam; religavam. Repetiam a operação a cada dois ou três minutos. Se fosse um carro, eu diria com certeza que estava com problemas no motor de arranque.
As horas foram passando. Nós suávamos – porque não havia energia para ligar o ar-condicionado – e aguardávamos uma solução. Pela janelinha, conseguia ver uns sujeitos de macacão mexendo numa das asas. Aí mesmo é que eu suava mais – um suor frio, evidentemente, que me escorria pelo rosto e pelo pescoço. Não havia lenço que conseguisse estancar aquela sangria.
Resumo da história: quase quatro horas da manhã, finalmente o Boeing começou os procedimentos para a decolagem.
Iniciado o serviço de bordo, pedi um uísque duplo. Logo após, veio o jantar. Supimpa, é claro, porque a Varig era ótima [e os passageiros pagavam por isso] de cozinha.
Reclinei a poltrona e chamei o sono – para sonhar, infelizmente, com um grupo de mecânicos, de uniforme, mexendo e remexendo nas asas enquanto o avião sobrevoava o Atlântico...
Quando acordei, já sobrevoávamos a Espanha. Estou salvo, pensei. Mas logo caí em mim: haverá a volta, mais 12 horas de viagem, pela mesma Varig etc. e tal. No dia marcado, cheguei meia-hora antes do necessário ao Charles De Gaulle. Comprei jornais e revistas e preparei-me para umas duas ou três horas de espera. Estava errado. Chamaram no horário, embarcamos no horário, o avião funcionou bem e, no dia seguinte, 7 horas da manhã, estávamos no Rio de Janeiro. O Brasil tinha uma nova moeda (o Real), que valia mais do que os meus escassos dólares economizados... Mas essa é uma outra história.
sábado, 28 de julho de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário