quarta-feira, 25 de julho de 2007

Noticiários

Um amigo médico, com quem convivi muito nos anos 1980, era viciado em telejornais. Esperava-os com ansiedade, fossem da Globo, Manchete ou Bandeirantes. Na hora em os âncoras chamavam para o intervalo, ele "ouvia" a chamada assim:
- Más notícias no próximo bloco.É claro que os apresentadores queriam dizer "mais notícias".
Mas o meu amigo achava, à época, que os telejornais estavam lhe causando constantes mudanças de humor e problemas de saúde. Ficou uma semana sem assisti-los. Melhorou um pouco. Mas voltou ao vício.
Outro amigo, com quem trabalhei na TV Cultura, em São Paulo, sofria muito com a leitura do noticiário impresso. Acordava bem-disposto, mas logo ia para seu jornal favorito, o Estadão.
Apresentando problemas de saúde constantes, foi ao médico. Daqueles médicos antigos, que gostavam de investigar tudo quanto fosse relacionado à vida do paciente. Ouviu dele a pergunta: "Qual jornal você lê?". Meu amigo respondeu que era o Estadão. "Mude para a Folha". Meu amigo melhorou.
[Uma explicação para os mais jovens: na década de 1980, o Estadão era um jornal vetusto, conservador até a medula, inicialmente identificado com o golpe militar de 1964. A Folha, desde a década de 1970, era uma publicação mais liberal, às vezes até libertária, na contramão de tudo o que o Estadão publicava].

Um comentário:

Anônimo disse...

Também fui viciado em noticiário, mas o Estadão foi uma constante desde a adolescência. Comprava-o todos os dias e quase sempre, o lia integralmente. O Estadão ficou famoso na época da ditadura porque na primeira página, nos espaços ocupados por textos censurados, publicava receitas de culinária. Apesar da posição conservadora, prezava acima de tudo a liberdade de expressão.
Atualmente, com o país tomado pela violência e pela corrupção, mantenho-me informado pela internet, onde tenho a liberdade de escolher o que quero ler, ver e ouvir.