Não é fácil defender a Política (assim mesmo, com P maiúsculo). O mais cômodo é generalizar, é julgar de forma apressada, é se deixar levar por um senso comum e às vezes equivocado e distorcido.
Poucos analistas, comentaristas e colunistas dos meios de comunicação observam, nas avaliações feitas para o grande público, que existem exceções entre os políticos que nos representam no Parlamento ou ocupam cargos executivos. Raramente se vê o Arnaldo Jabor ou a Lúcia Hipólito dizendo, na CBN, que estes ou aqueles representantes populares estão numa outra linha da política, a Política.
Assim, quando aparece uma pesquisa como a de ontem (encomendada pela Associação dos Magistrados do Brasil), que coloca Polícia Federal, Ministério Público, Forças Armadas, imprensa e Judiciário como as instituições de maior credibilidade no País, atirando o Parlamento à lata do lixo, o sentimento geral pode ser resumido numa expressão muito prosaica: "Eu não disse? Político não presta pra nada mesmo".
Bem, mas de que adianta bater ainda mais nos políticos, se a generalização da mídia já fez a sua parte? Pelo que se lê, vê ou ouve, o Parlamento está podre, minado pela corrupção e pelos desmandos em geral. Renan Calheiros simboliza (ou centraliza) a noção comum de que a bandalheira é geral.
Está certo que a imprensa se baseia em fatos ou denúncias para cumprir o seu papel. Mas, parece evidente, muitos dos nossos mais notáveis colunistas trabalham com um olho na política e outro na audiência. Partem do princípio de que o que vai ser analisado deve corresponder ao que espera a audiência. Se disser o contrário, o colunista está morto.
Lúcia Hipólito, no Programa do Jô da última quarta-feira, chamou o deputado federal Antônio Palocci de "criminoso". Foi aplaudida pela platéia, porque a plebe gosta mesmo de ouvir esse tipo de "análise". Mas Lúcia fez mais: desafiou Palocci a processá-la pelo que disse. Isso é análise? Isso é jornalismo? É essa a busca pela verdade, ainda que relativa, a que se propõe um profissional de comunicação?
Não estou dizendo que Palocci é inocente. Mas há que se ter uma certa polidez ou prudência quando se analisam fatos e personalidades envolvidas com os fatos. É o mesmo caso de Renan, de José Dirceu, José Genoíno, Eduardo Azeredo e tantos outros. Antes que eles possam provar a inocência – ou alegar o direito à defesa – já estão condenados previamente por quem os denuncia.
É claro que muitos políticos não merecem a mínima consideração, pouco importa se estão em cargos executivos ou legislativos. Mas eles não podem servir simplesmente de referência para um julgamento genérico e, às vezes perverso, da atividade política de modo geral. Porque, sem a Política, não há democracia. E melhorar a Política depende de nós, não deles.
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
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