Inauguração da Ponte Colombo Salles, em março de 1975: uma festa para a cidade, que até então vivia trancada no trânsito. Imagem reproduzida de uma reportagem da revista Manchete
Numa consulta informal a amigos e conhecidos que utilizam seus automóveis com freqüência normal, não encontrei um sequer que se dissesse disposto a deixar o carro em casa pelo menos um dia – esse dia de protesto pela humanização das cidades (amanhã). Quase todos alegaram os mesmos motivos: precisam do veículo para trabalhar, levar as crianças à escola, fazer compras no supermercado, estudar ou namorar. Ninguém está disposto a abrir mão do conforto, porque não há transporte coletivo eficiente, Florianópolis não tem ciclovias (e os terrenos são muito irregulares para pedalar) e tudo é muito longe.
Em suma, tudo contribui para a constatação de que o automóvel é um vício muito difícil de largar.
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Quando garoto, eu estudava no Centro e morava no Continente. Só havia uma ponte – a Hercílio Luz. Meu pai organizava a turma toda que tinha de se deslocar para o Centro (trabalho ou escola) desde as 6 horas da manhã. Era preciso sair cedo para evitar a “fila da ponte” (também chamada pejorativamente de “filha da ponte”, como a sintetizar a indignação local). Cinco minutos de atraso, na hora da partida, podia significar pelo menos 30 ou 40 minutos no engarrafamento, que descia a Gaspar Dutra, às vezes para muito além da Santos Saraiva.
Inauguraram a segunda ponte em 1975. Foi uma festa só. A cidade comemorou durante dias. Era o fim de um tormento. Mas o próprio construtor da ponte, governador Colombo Machado Salles, já advertia à época que aquela obra seria insuficiente, nos anos seguintes, para suportar o crescimento da frota em Florianópolis. Isso foi há 31 anos. Em 1990, inauguraram a terceira (na verdade, complemento da segunda, porque o projeto é o mesmo), que logo também se mostrou incapaz de dar conta do recado.
O problema não é exatamente a ponte, mas os gargalos continentais – a Via Expressa, com duas pistas em cada sentido, continua sendo o acesso mais procurado para entrar ou sair da ilha. Com a construção da Avenida Beira-mar Continental, é possível que o trânsito melhore um pouco.
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Há quem defenda uma quarta ponte ou um túnel sob o mar. Pode ser. Mas do jeito que a coisa vai, podem construir a quinta, a sexta e a sétima ponte – até que Florianópolis se torne completamente inviável para viver, trabalhar, estudar e sonhar. Porque ninguém vai agüentar a tranqueira, como nós também não agüentávamos, lá no início da década de 1970.
2 comentários:
Sem dúvida, o carro é um vício difícil de largar. Caminhar, dispensando o carro, a não ser com trajes próprios esportivos de grife, é visto com preconceito. Pega-se o carro para ir até a pista da caminhada, muitas vezes a menos de mil metros de distância.
Sem dúvida, a quarta ponte no lado norte da Hercílio Luz, ligando a beira-mar norte à beira-mar continental é uma necessidade. Espero que os arquitetos e engenheiros, depois dos dois monstrengos de concreto (Colombo Sales e Pedro Ivo), optem por uma ponte estaiada que rivalizará em beleza com a Hercílio Luz.
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