Grato ao Leopoldo Pelin, que me enviou dois arquivos maravilhosos (em Power Point), nos quais a nostalgia é a tônica.
E vejam bem: quando falamos em saudade de uns tempos felizes estamos nos referindo às décadas de 1960 e 1970. Não pensem que a nossa memória pessoal (minha, do Leopoldo e de outros leitores) recua muito além disso.
É interessante observar, como adendo ao que foi dito aqui durante a semana, que não estamos dizendo que "naquela época era melhor". O papo é outro. Naquela época era diferente. Não havia tanto consumismo, não usávamos cinto de segurança nos carros, saíamos de casa com a recomendação de voltarmos à noite (e voltávamos sempre), não tínhamos celular nem aparelho de telefone fixo, muitos de nós vivíamos na escuridão (a energia não era privilégio de todas as cidades), a música que ouvíamos era um bálsamo para os ouvidos... E aqui fazemos uma pausa: nós tínhamos os Beatles, Pink Floyd, Creedence, Stones, Bob Dylan, Cat Stevens, Gil, Caetano, Chico, Vandré, Tom, Vinícius, Elis... Não era o máximo?
Está bem. O Magoo (Bonassoli) pode me corrigir, ele que sabe tudo de música. O cenário musical de hoje não é de todo ruim. Há bom rock, bom jazz, boa MPB. Mas a "cultura de massas" ainda nos empurra pagode e sertanejo de péssima qualidade, além de um funk bem ruinzinho, numa insistência danosa aos nossos tímpanos. A cultura de massas lá de trás tinha o Odair José e o Reginaldo Rossi, este ainda por aqui, mas havia um contraponto fabuloso nas rádios em geral (o meio mais comum de se ouvir música). Posso dizer que o dominante na programação daquelas rádios era a música de qualidade: os da minha geração por certo devem lembrar das rádios Anita Garibaldi, Guarujá e Diário da Manhã, as melhores do dial de ondas médias (hoje chamadas de rádios AM). Na Anita ouvia-se bossa nova e jazz; na Guarujá, bossa nova, MPB e orquestras (esta rádio tinha um programa ao meio-dia chamado "Almoçando com Música"); na Diário, MPB, bossa nova e pop-rock.
Acabei me alongando neste assunto. Mas o objetivo geral desta intervenção é focalizar a nossa concentração infantil e adolescente em recortes interessantes da cultura nacional da época, porque não havia consumismo como hoje, nem a dispersão intelectual que o consumo provoca. (*)
Sei que há muitos jovens de hoje que resistem a tudo isso, que não ficam enchendo a paciência dos pais para que lhes comprem um novo aparelho celular a cada três meses. Tampouco cedem seus ouvidos à tentação fácil do pagode e do funk baratos. E ainda lêem bons livros, que eles garimpam nos sebos das grandes cidades. São estes jovens que nos dão alguma esperança quanto ao presente e ao futuro.
(*) Li recentemente, numa matéria sobre os discos de vinil, que antes do CD e do MP3 os artistas e gravadoras eram obrigados a selecionar ao máximo o repertório a ser incluído num LP. Simples: no LP só cabiam 14 ou 15 minutos de música de cada lado. Assim, não era qualquer bobagem que entrava num lançamento, porque o processo industrial era muito caro. Hoje, com MP3, um artista pode deliciar nossos ouvidos com 20 ou 30 minutos de boa música... e entupir os mesmos ouvidos com mais 60, 90 ou 120 minutos de coisas absolutamente descartáveis. É isso que nós chamamos de dispersão intelectual: acabamos consumindo o que não nos interessaria, caso as próprias fontes culturais fossem mais seletivas.
sexta-feira, 23 de novembro de 2007
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