sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Cotas, não

Uma sentença surpreendente em Santa Catarina ganhou destaque nacional nesta sexta-feira: o juiz federal Carlos Alberto da Costa Dias, da 2ª Vara Federal, decidiu que um candidato branco ao vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) tem o direito de concorrer a todas as vagas do concurso, incluindo as reservadas aos candidatos negros (sistema de cotas). No entendimento do magistrado, as cotas violam o princípio constitucional da igualdade. Embora seja decisão restrita ao candidato que ingressou com a ação, não resta dúvida que cria jurisprudência e pode derrubar judicialmente a reserva de vagas - uma questão que é polêmica e encontra mais opositores do que defensores, justamente porque agride a Constituição Cidadã de 1988.
A UFSC decidiu pela destinação de 30% das vagas para cotistas.
[Com informações do site G1].
Um recorte interessante de Florianópolis: o manguezal do Itacorubi e, ao fundo, os prédios que crescem na área do antigo lixão da cidade. Pra quem não sabe, o manguezal é patrimônio natural da cidade, protegido pela legislação federal

Documentário

Roberto Lacerda Westrupp, neto do ex-governador Jorge Lacerda, informa em primeira mão para este blog: está produzindo um documentário sobre os 50 anos da morte do avô, no acidente aéreo que também matou o senador Nereu Ramos e o deputado Leoberto Leal, em 16 de junho de 1958. Roberto, aliás, espera concluir a obra antes de 16 de junho de 2008, para que todos possam conhecer um pouco mais sobre a vida do governador catarinense que era um intelectual de primeira grandeza. E é evidente que, além de Jorge Lacerda, o documentário focalizará a perda dos dois outros ilustres políticos catarinenses, uma vez que os três viajavam juntos para o Rio de Janeiro, então a capital federal do País. O acidente aconteceu no Paraná, nas proximidades de Curitiba.

Não tem mais solução

Na volta de um compromisso profissional, ontem, às 17h30, pude testemunhar a quantas anda o trânsito no sentido Trindade-Centro. Quando vi o engarrafamento, que começava na altura do Centro Integrado de Cultura (CIC), achei que tinha algum acidente no trajeto até o Beiramar Shopping. Comentei o fato com o Lauro, que era quem me dava a carona. Ele, acostumado a encarar o tráfego pesado todos os dias, reagiu de pronto: "Bem se vê que não estás acostumado a andar de carro por estas bandas. Faz tempo que a coisa funciona assim".Cheguei à conclusão de que não tem mais solução mesmo. Além da precariedade na infra-estrutura viária, tem carro demais em Florianópolis. Na minha conta, a implantação do rodízio na Capital não passa de 2008.

Amaral volta ao SBT

Como previsto (e especulado aqui no blog), a TV Lages, que hoje transmite a Rede TV em Santa Catarina, passa a ser a nova afiliada do SBT no Estado a partir de fevereiro. A informação está confirmada no site Acontecendo Aqui, edição de hoje. A TV Lages é dirigida pelo empresário Roberto Amaral, que já foi sócio da família Petrelli no SBT catarinense. Ele conhece Sílvio Santos melhor que ninguém em Santa Catarina.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Melhorando a Justiça

A Assembléia Legislativa aprovou projeto de lei que autoriza a suspensão de todos os executivos fiscais em tramitação no Estado com valor igual ou inferior a um salário mínimo. Na prática, 600 mil ações judiciais serão engavetadas, desobstruindo os caminhos do Judiciário. A explicação para essa iniciativa – o projeto de lei foi encaminhado à AL pelo Tribunal de Justiça: cada ação tem um custo de R$ 530. No caso das ações que tramitavam, o valor inferior a um salário mínimo (R$ 380) não justificava a dedicação dos juízes. Palavras do presidente do TJ, desembargador Pedro Manoel Abreu: "Gastamos dinheiro bom para resgatar dinheiro ruim".

A panacéia de LHS

O governador Luiz Henrique da Silveira defendeu a municipalização da gestão ambiental durante palestra na Ecopower Conference, evento internacional realizado em Florianópolis que discute alternativas limpas de geração energética.
Fôssemos um País de primeiro mundo, com administradores capacitados e incorruptíveis, certamente a idéia de LHS seria muito boa. Mas como estamos no Brasil, onde as coisas são sempre "ajeitadas" ao sabor das vontades e interesses pessoais e corporativos, já imaginaram a bagunça que aconteceria com a municipalização das licenças ambientais? Cada um faria o que quisesse!
Luiz Henrique tem de parar com essa história da panacéia descentralizadora.
Nem tudo pode ou precisa ser descentralizado. Se for assim, para quê Estado? Só para os governantes fazerem pose e desfilarem por aí, com ar de magnatas da política?

O caso da Epagri

O escândalo na Epagri traz à tona a velha discussão sobre as terceirizações. Há excesso de serviços terceirizados, não só no Governo do Estado, como nos municípios, nas empresas estatais, câmaras municipais, universidades e outras instituições do serviço público.
A terceirização apresenta inúmeras vantagens, mas também uma grande desvantagem: não cria vínculo, fidelidade funcional.
Outra: em muitas repartições públicas, há uma espécie de hierarquia desrespeitosa. Percebi ontem, numa visita a uma empresa estatal: duas recepcionistas fazem o mesmo serviço. Mas a que é “da casa” (do quadro funcional) tem mais poder do que a terceirizada que trabalha ao seu lado. Além disso, a terceirizada ganha infinitamente menos.

Para quem não sabe da história
O caso da Epagri era o seguinte: uma empresa prestadora de serviços de vigilância e limpeza faturava a mais na cobrança pelas suas atividades, incluindo em sua folha de pagamento funcionários (ou falsos funcionários) que não prestavam serviços para a empresa pública contratante. Logo, o prejuízo mensal dos cofres públicos superava R$ 200 mil, segundo os cálculos preliminares. É preciso destacar, no entanto, que a empresa foi regularmente contratada, através de licitação.

Um mistério de 51 anos

O incêndio da Assembléia Legislativa, em 1956, é um daqueles assuntos tabus em Florianópolis. Durante esse tempo inteiro, o que se conhece sobre o nebuloso episódio é sempre envolvido em dúvidas e evasivas. Quase todos na cidade sabem quem mandou colocar fogo na AL, mas ninguém tem provas.
Naquela época, a imprensa era comprometida com os partidos políticos, o Ministério Público não era como hoje (e tinha atuação limitada) e os parlamentares, em geral, tinham muitos interesses a defender.
Além de documentos – inclusive os que supostamente precisavam ser destruídos pelo autor do crime –, perderam-se obras de arte importantes que faziam parte do rico acervo da AL.
Sem falar no próprio prédio, que era uma obra de arte em si.

Gripe doida

Um alto funcionário público sentiu-se mal, outro dia, enquanto trabalhava. Sabendo que em sua repartição há um grupo de médicos à disposição dos servidores, dirigiu-se ao serviço de atendimento.
Lá chegando, apresentou seus sintomas ao único profissional que estava na casa no momento. Tinha dores pelo corpo, uma sensação de moleza e mal-estar generalizado. “Acho que é uma gripe muito forte”, apressou-se em dizer ao médico. Este, meio sem jeito, explicou que sua especialidade era a psiquiatria, e não a clínica geral.
“Não faz mal”, disse o funcionário, “a minha gripe está mesmo meio doidinha. Receita algum remédio pra ela, doutor”.
Ato contínuo, o médico rabiscou o nome de um medicamento e o funcionário foi embora, feliz da vida com a receita. Quando chegou à farmácia, o farmacêutico quase caiu para trás: o remédio era um analgésico, em dose cavalar, utilizado em pacientes de pós-operatório.
Decepcionado com o serviço médico de sua repartição, o servidor público comprou dois envelopes de Melhoral e foi para casa, curar sua gripe doida.

A barbárie

Paulo Maluf, hoje deputado federal, celebrizou-se por uma frase infeliz, pronunciada há mais de 20 anos, quando era governador de São Paulo. “Estupra, mas não mata”, recomendou o político paulista aos bandidos que andavam barbarizando em seu Estado (havia à época um alto índice de estupros seguidos de morte). Deve ser mais ou menos assim que pensam algumas autoridades irresponsáveis do Pará, a propósito de mulheres que dividem celas com homens.

Souza e Sousa

Nem era necessário uma lupa: leitores atentos, como Gley Sagaz e outro, anônimo, perceberam que o Cruz e Sousa gravado no busto do poeta – imagem publicada aqui ontem à noite – aparece com um z, quando o correto é Sousa. Ao clicar a foto, em 2005, percebi o erro de imediato e fiquei me perguntando se não é um problema antigo, coisa de quem mandou confeccionar a estátua, há umas seis ou sete décadas.
Também o Clic RBS de ontem chamou errado, com Souza no lugar de Sousa.
E pelo que me consta, na Rua Cruz e Sousa, subida do Morro do Céu, a placa da prefeitura também está errada.
Todas as grafias equivocadas podem ser corrigidas. No caso do busto, é só alguém deste governo – que tanto ama a cultura superior – tomar a providência.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Uma vez, essa imagem já saiu aqui. É a mesma Assembléia Legislativa, publicada hoje, vista de outro ângulo

O poeta de volta


Busto do poeta Cruz e Sousa, na Praça 15 de novembro, em frente ao Palácio que leva seu nome e onde ficarão depositados seus restos mortais a partir desta quinta-feira

Os restos mortais do poeta Cruz e Sousa chegam a Santa Catarina amanhã, 109 anos depois de sua morte.
Cruz e Sousa foi o maior poeta simbolista do Brasil e um dos maiores do mundo. Seu nome motiva sentimento de orgulho nos catarinenses. Por isso, a importância de termos aqui, no palácio que leva seu nome, a simbólica presença de seus restos mortais.
É dele (de "Últimos Sonetos") o poema abaixo:

Imortal atitude
Cruz e Sousa

Abre os olhos à Vida e fica mudo!
Oh! Basta crer indefinidamente
Para ficar iluminado tudo
De uma luz imortal e transcendente.

Crer é sentir, como secreto escudo,
A alma risonha, lúcida, vidente…
E abandonar o sujo deus cornudo,
O sátiro da Carne impenitente.

Abandonar os lânguidos rugidos,
O infinito gemido dos gemidos
Que vai no lodo a carne chafurdando.

Erguer os olhos, levantar os braços
Para o eterno Silêncio dos Espaços
E no Silêncio emudecer olhando…

Rizzo e seu Dodge Polara

Conhecia há muitos anos o jornalista Roberto Rizzo, que, além de competente no exercício de sua profissão, tinha uma voz de locutor de FM. Era, por isso, convidado para ser mestre de cerimônias em muitas solenidades relacionadas à educação catarinense.
Curiosamente, acho que era a única pessoa em Florianópolis a possuir um Dodge Polara (conhecido como Doginho) inteiríssimo, que ele levava para "passear" todos os sábados, deixando-o estacionado próximo à minha casa.
Rizzo morreu ontem, vítima de complicações pós-operatórias.

O prédio da Assembléia

A turma fez a lição direitinho: o belo prédio apresentado aqui – numa imagem "emprestada" do acervo do Velho Bruxo – era mesmo a Assembléia Legislativa catarinense, construída na primeira década do século 20. Ficava na esquina da rua Marechal Guilherme com a Praça Pereira Oliveira, onde depois foi a Telesc e hoje é o Banco Safra.
O edifício foi destruído por um incêndio – nunca esclarecido oficialmente – que começou às 22h30 de 17 de maio de 1956.Durante alguns anos, a Assembléia funcionou no quartel da Polícia Militar (Rua Nereu Ramos), transferindo-se para a atual sede apenas em 1970, no governo de Ivo Silveira.

FOTO-TESTE

Acredite se quiser, prezado jovem leitor: o belíssimo prédio da foto (uma verdadeira obra de arte) era uma das atrações de Florianópolis até a década de 1950. É possível que, entre os leitores mais velhos, alguém tenha conhecido... É um foto-teste difícil, a não ser para os que conhecem bem a cidade, de memória e de fotografia. A imagem foi captada do acervo do Velho Bruxo e, lá, é creditada à “Família Elpo”.
Enfim, que prédio era este?

A frase da terça-feira...

... que avança pela quarta-feira: “Sei governar melhor que ele”. De Lula, comparando-se com o antecessor, Fernando Henrique. Modéstia, francamente, é uma coisa que falta aos dois.

A dúvida da terça-feira...

... que avança pela quarta-feira: Quem são mesmo os débeis mentais do Pará?

Estoque zero

De um amigo, diretor de uma das maiores concessionárias de automóveis da Grande Florianópolis: “Quem quer comprar carro zero tem de esperar no mínimo 30 dias para conseguir o veículo”.
Não há estoque de automóveis zero quilômetro nas concessionárias. Vende-se mais carro do que pão quente em Florianópolis.

Sexo na hora do jantar

Comerciais de cabarés como Bokarra e Sex Night Club são exibidos normalmente durante o Programa do Jô (ou após), por causa do forte conteúdo erótico. A implicância do Ministério Público Federal com a telenovela Duas Caras tem origem nas apelativas cenas de strip-tease e contorcionismo sexual exibidas todas as noites na Globo, entre 21 e 22 horas, como se o Brasil fosse uma platéia do Bokarra ou do Sex Night Club.

Pânico na TV

Já pensaram uma câmera oculta da Globo acompanhando certas missões governamentais por aí? Quantas revelações do que rola no exterior nós não assistiríamos? Seria um autêntico Pânico na TV?

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Qualidade de vida

O Brasil está na elite do desenvolvimento humano mundial, em 70º lugar, mas com Índice de Desenvolvimento Humano de primeiro mundo (0,800), superando timidamente o índice anterior (0,766). O resultado foi divulgado hoje pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (PNUD), baseado em pesquisa do ano de 2005.
No IDH de 2000, Santa Catarina já estava num patamar elevado (0,822), o segundo lugar entre os Estados brasileiros. Florianópolis, Balneário Camboriú e Joaçaba constavam entre os dez municípios brasileiros de melhor qualidade de vida, respectivamente com 0,875, 0,867 e 0,866.

Como é calculado
Quatro indicadores compõem o IDH: Produto Interno Bruto (PIB) per capita, expectativa de vida, taxa de alfabetização de pessoas com 15 anos ou mais de idade e taxa de matrícula bruta nos três níveis de ensino. De 0,000 até 0,500 o índice é baixo; de 0,501 a 0,799, o desenvolvimento é considerado médio. Acima disso, é alto. O Brasil está no limite mínimo desta última categoria.

O ranking completo de 2007-2008 está AQUI, mas apenas relativo aos países.

Horário errado

Segundo a Agência Estado, o Ministério da Justiça está de olho na telenovela Duas Caras, por causa de seu conteúdo impróprio para o horário.
Mas vejam o que diz a matéria:

“Duas Caras está na mira no Ministério da Justiça. A novela, que é classificada como imprópria para 12 anos, e vai ao ar a partir das 20 horas, pode ganhar nova classificação indicativa ainda esta semana. Com base em denúncias, reclamações e relatórios do próprio órgão, o MJ resolveu abrir um Procedimento Administrativo para melhor analisar o conteúdo da obra.
O MJ vai assistir a alguns capítulos de Duas Caras de olho em possíveis inadequações para o horário. Se constatar que o conteúdo realmente está excedendo as normas de classificação, será recomendado à Globo que a trama seja reclassificada como imprópria para 14 anos, portanto, com exibição liberada somente após as 21 horas."

Das duas, uma: ou o redator da matéria não assiste a telenovela, ou o Ministério da Justiça também não. Porque, na verdade, Duas Caras já vai ao ar a partir das 21 horas, embora seja chamada tecnicamente de “novela das oito”.

E por falar em Duas Caras, quem já assistiu a alguns capítulos da trama já conseguiu fazer um paralelo entre o personagem de Antônio Fagundes e um poderoso político brasileiro que morreu recentemente? Não só pelo visual, como também pelo, digamos, estilo.

A política do deixa-estar

Se a Globo já denunciou outras vezes, e se o Tribunal de Contas da União sabe de tudo, por que esse Ibrap continua realizando eventos fajutos para vereadores e prefeitos, como esse último, em Buenos Aires, apresentado em todos os telejornais de ontem e de hoje pela manhã? Por que não foram adotadas as providências mais óbvias contra o tal "instituto"?
É o mesmo que há em relação a mulheres misturadas com homens nas cadeias do Pará. Os jornais revelam que o problema é antigo, já foi denunciado e as autoridades nunca tomaram as providências que lhes cabiam. A única diferença é que, no caso recente, havia uma menor de idade atirada às feras.
Sem falar no caso do estádio da Fonte Nova: todos sabiam, ninguém fez nada, morreram sete torcedores. Agora, diante da tragédia, o estádio vai ser implodido.

Em todos os casos, prevalece a política do deixa-estar-para-ver-como-é-que-fica.

Esoterismo salva?

O ladrão buscou socorro numa seita evangélica e apareceu na delegacia com uma Bíblia, para tentar justificar seu ato criminoso, que resultou na morte de um turista italiano.
Para o pastor que o acompanhava, foram as forças do mal que empurraram o “cliente” para o crime.
Na política, quando em situações difíceis, certas autoridades também apelam para explicações esotéricas. Isso desde Jânio Quadros, que acusou “forças ocultas” em 1961 como responsáveis por sua renúncia, sete meses depois de ter assumido a Presidência da República.Então, ficamos assim: no Brasil, a culpa de tudo é do diabo. Apesar de Deus ser brasileiro, como bem lembrou há dias o nosso presidente, ao comemorar a redescoberta de uma imensa jazida de petróleo.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Nem contra, nem a favor

Um leitor acusa o blog de praticar “jornalismo do contra”. Não vejo a coisa dessa forma. Não se trata de ser contra ou a favor deste ou daquele personagem, deste ou daquele fato. Aqui se emite opinião, um direito assegurado pela Constituição Cidadã de 1988. Se crítica significa ser “do contra”, lamento, porque não é esse o objetivo deste blogueiro, nem de tantos outros que escrevem por aí, preocupados com o presente e o futuro da cidade, do Estado e do País.

Muito marketing, poucos resultados

O Desafio das Estrelas, realizado em Florianópolis, ganhou grande repercussão, por causa da presença de Michael Schumacher. É pena que a maioria do público interessado não teve acesso ao local da prova de kart, porque os ingressos "se esgotaram" no primeiro dia em que foram colocados à venda.
Há quem diga, no entanto, que o evento foi mesmo uma festa reservada, para um público bem definido, com o objetivo de garantir uma imagem “positiva” de Florianópolis na mídia nacional e internacional.
Como se Florianópolis precisasse de Schumacher, Massa, Barrichello e outros para aparecer na mídia. Se a intenção foi essa, é preciso reconhecer que a capital catarinense aparece até demais. A cidade já não suporta tanta fama relacionada à qualidade de vida, enquanto os problemas em geral se multiplicam com velocidade de Fórmula 1.

Mônica, a escritora

Os trechos do livro de Mônica Veloso, publicados ontem pelo blog do Noblat (aqui), revelam uma escritora bem-articulada, com texto de razoável qualidade e muitas pitadas de ficção. Se ela quiser, pode inventar e reinventar histórias muito interessantes sobre autoridades federais. Tem talento e uma bela sensualidade na escrita para prender o leitor.

domingo, 25 de novembro de 2007

Resgate cultural

Café, obra de Hassis

Obra de Meyer Filho, sem título

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Já que o Governo do Estado faz tão pouco pela cultura dos mortais catarinenses (eles, do governo, gostam muito da alta cultura, bem coisa de nouveau-riche), a Fundação Franklin Cascaes, da Prefeitura de Florianópolis, dá conta do recado.
O magnífico trabalho realizado pela equipe do professor Vilson Rosalino tem aparecido com regularidade, mantendo vivas as tradições culturais de Santa Catarina, ao buscar parcerias com organizações não-governamentais.
Abrem nesta terça-feira, em dois espaços (confira abaixo), exposições distintas de obras de Meyer Filho e Hassis, em comemoração aos 50 anos da mostra realizada no Instituto Brasil-Estados Unidos (Ibeu), em Florianópolis, e que revolucionou as artes plásticas do Estado.
Meyer e Hassis foram os fundadores, com outros artistas, do Grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis (GAPF), que comemora 50 anos em 2008.
As mostras em Florianópolis levam o título de “Ressonâncias Modernistas. Hassis e Meyer, 50 Anos de Motivos Catarinenses”.

Serviço

O QUÊ Projeto “Ressonâncias Modernistas. Hassis e Meyer, 50 Anos de Motivos Catarinenses” – Mostra de Hassis
ONDE Galeria Municipal de Arte Pedro Paulo Vecchietti, praça 15 de Novembro, 180, esquina com a rua Tiradentes, centro, Florianópolis, tel.: (48) 3228-6821
QUANDO De 27/11/07 a 4/1/08; abertura, 20h; segunda a sexta, 13 às 19h.
QUANTO Gratuito

O QUÊ Projeto “Ressonâncias Modernistas. Hassis e Meyer, 50 Anos de Motivos Catarinenses” – Mostra de Meyer Filho
ONDE Museu Hassis, rua Luiz Costa Freysleben, 87, bairro Itaguaçu, Florianópolis, tel.: (48) 3348-7370.

QUANDO De 27/11/07 a 30/1/08; abertura, 20h; segunda a sexta, 8h30 às 12h; 13h30 às 18h.
QUANTO Gratuito

O paradeiro de Gina

Leitor do blog, Joaquim Araújo deu a dica, para o meu e-mail (carlosdamiao@gmail.com): Gina, a garota do palito, é hoje uma sexagenária que vive em São Paulo. Seu nome verdadeiro é Zofia. E ela não ganha nada (levou só um cachê, em 1975) pelo uso de seu rosto na caixa de palitos. Quem quiser saber mais é só ler esta boa matéria da Isto É.

Joaquim Araújo, por sinal, é um ótimo fotógrafo catarinense. Confira o que ele anda clicando aqui. São fotos casadas com poemas de Antonio Lázaro de Almeida Prado.

sábado, 24 de novembro de 2007

Santa Catarina

Se o prezado leitor nasceu em Santa Catarina (ou vive no Estado há um tempo razoável), por certo já deve ter lido inúmeros textos impecáveis sobre a nossa rica História e as nossas qualidades humanas, culturais, ambientais e geográficas.
Mas aposto que nunca leu o que vai publicado a seguir, de autoria do governador Jorge Lacerda, morto num acidente aéreo ocorrido em 16 de junho de 1958.
Apesar de passados mais de 50 anos, desde que Lacerda escreveu esta jóia, há no texto uma indisfarçável poesia e uma confessada paixão por nosso Estado. Talvez até por não ter nascido aqui (filho de gregos, era natural de Paranaguá, no Paraná), o político e intelectual tivesse uma visão totalmente diferente, perspicaz e criativa sobre Santa Catarina.
[Leia uma síntese da biografia do governador no post anterior – role a página para baixo –, onde está explicado também de onde tirei este texto].
Mas deixemos de conversa. Vamos ao que ele escreveu:

Santa Catarina, a diferente

"O que surpreende o viajante, quando percorre o território catarinense, são os acidentes geográficos. Quem vive na Capital da República e ouve falar em Santa Catarina tem a impressão de que aqui a natureza é aquela 'fêmea mansa', de que nos fala Gilberto Freyre, a respeito de outras regiões do país, que se agachava sem resistência sob as botas petulantes do colonizador.
Ocorre, entretanto, o contrário. A natureza parece ter convocado as montanhas numa verdadeira insurreição telúrica, para conter a marcha do homem. O chão catarinense foi sacudido por uma convulsão de serras. Para dominá-lo, foi mister a obstinação heróica daquelas raças que trouxeram do Velho Continente a decisão da luta e a paixão da conquista.
Os próprios rios, em Santa Catarina, ao contrário do que observava Pascal, não são aqueles caminhos que andam e nos levam para onde desejamos ir. Não colaboraram, como em outras regiões brasileiras, no trabalho de penetração do homem no interland.
Daí a luta, verdadeiramente titânica, travada pelo lavrador catarinense contra o meio físico. Quantas lavouras, da raiz das montanhas ascendem até o cume, vencendo escarpas quase verticais como a submeterem o lavrador a verdadeiro alpinismo agrário...
Não obstante tudo isso, Santa Catarina soube plantar, entre as águas atlânticas e as barrancas do Peperiguaçu, uma civilização peculiar na vida brasileira, caracterizada sobretudo pelo seu aspecto multiforme – mosaico cultural na paisagem nacional –, composto pelas mãos vigorosas de seus pioneiros, de várias procedências e de diferentes raças, como o Dr. Blumenau, a maior figura de colonizador que o Brasil conheceu. Formado em filosofia por uma universidade alemã, aqui fundou uma sociedade cujos estatutos vedavam a existência de escravos e consideravam brasileiros todos aqueles que participassem da organização. Dom Pedro II entusiasmou-se com os planos do colonizador, tornou-se seu amigo e o amparou nos seus empreendimentos. Com Blumenau veio o Dr. Fritz Müller, considerado por Darwin o "Príncipe dos Observadores", isto há mais ou menos um século. Fritz Müller era socialista. Andava de tamancos e, às vezes, descalço, por certo para mostrar o rigor das suas convicções.
O município de Blumenau marcou, com as suas características, o Vale do Itajaí, onde encontramos enfeitando a paisagem tropical o casario talhado em linhas européias.
Mais acima, na carta geográfica do Estado, temos Joinville, grande centro industrial do Norte, colonizada por alemães e escandinavos. Nasceu, todavia, sob o paraninfo de princesa brasileira e príncipe francês: a Princesa Dona Francisca, filha de Dom Pedro I, Imperador do Brasil, e o Príncipe de Joinville, filho de Luís Filipe I, Rei dos Franceses. Apesar das singularidades típicas do processo de desenvolvimento que modernamente impulsiona a vida do Estado, é perfeita a integração de cidades eminentemente industrializadas, como Joinville, Blumenau e Brusque, no quadro rural. O progresso não expulsou a natureza, que continua participando da vida urbana, compondo-lhe a moldura e proporcionando ao homem os elementos para sua subsistência.

"Várias ilhas de cultura, cada uma com as suas peculiaridades"

No século XVIII, os catarinenses chamavam o Rio Grande do Sul de "continente", como se o território de Santa Catarina se resumisse à ilha em que está hoje localizada Florianópolis, a antiga Nossa Senhora do Desterro. Do ponto de vista econômico e cultural, a visão que se oferece ao observador é a de um arquipélago: várias ilhas de cultura, cada uma com as suas peculiaridades. Na região do planalto, em que os costumes se assemelham muito aos do Rio Grande do Sul, predomina a indústria pastoril. O catarinense do interior em pouco ou nada difere do gaúcho. E o habitante das zonas coloniais se identifica perfeitamente com o colono do Rio Grande. Tais afinidades se explicam pela circunstância de Santa Catarina ter, por intermédio dos bravos lagunenses, fundado o Rio Grande; pela similitude das características que marcam a paisagem física e humana; pelo fato de a população do Oeste constituir-se de 80% de gaúchos. Na soma de todos esses fatores e dos imponderáveis psicológicos, reafirmados no curso da História, os dois Estados sulinos representam verdadeira unidade econômica e sentimental. Só nos faltam as planuras e coxilhas gaúchas, em que o homem alonga a vista até a barra do horizonte; o planalto catarinense, porém, é pontilhado de pinheiros, que se esparramam aos milhares pelos campos, ou se adensam em capões às margens dos rios e no topo das rechãs.
Na Serra Geral, bem defronte ao mar, ergue-se, a 1.200 metros, quase a cavaleiro do oceano, a cidade de São Joaquim, uma das mais altas do Brasil. Ali a natureza se manifesta num espraiamento de contrastes, cada qual mais impressionante aos olhos do brasileiro de outras procedências: no verão colhem-se frutas européias da melhor qualidade, e, no inverno, a paisagem cobre-se de neve.
Já no Oeste, onde florescem cidades que há pouco eram simples povoados, predomina a colonização teuto-ítalo-brasileira. É aí que ondulam os trigais de Santa Catarina. Na lavoura, que é a atividade principal, trabalham o homem e a mulher, segundo os bons costumes rurais europeus.
Ao norte do Estado, vamos encontrar as grandes plantações de erva-mate, cuja indústria experimenta verdadeira ressurreição econômica. Nessa região é que se desenrolou, nos começos do século, alastrando-se, depois, entre os rios Uruguai e Iguaçu, a 'Guerra dos Fanáticos', também conhecida por 'Campanha do Contestado', e que assumiu proporções maiores do que a de Canudos, quer na extensão do campo de operações, quer no movimento de massas.

“Aqui a realidade é que precede a fábula”

No Sul, temos o Vale do Tubarão, cujas terras, segundo a opinião de um agrônomo americano, convertidas em tabletes, poderiam ser exportadas como fertilizantes, tal a riqueza do seu húmus. É a região do vinho e também do carvão.
Recortado de praias, angras e enseadas, o litoral acolheu outrora o colonizador açoriano, cujo descendente, não afeiçoado aos trabalhos da terra, vive quase que exclusivamente da pesca. No inverno é famosa a pesca da tainha em arrastão.
Fato curioso é o que se observa nas praias da Laguna: os pescadores, de pés fincados na areia e de tarrafas em punho, pescam as tainhas que são tangidas pelos botos até a praia. E os botos (pacíficos mamíferos do mar), que corcoveiam à flor das ondas, renovam inúmeras vezes o assédio marítimo, como perdigueiros amestrados a serviço dos pescadores.
O surpreendente é que os pescadores se familiarizaram de tal forma com esses animais, que acabaram batizando-os até com nomes de gente. O 'Fandango' (porque meio espalhafatoso), o 'Cego' (porque nada meio zonzo), o 'Chinelo' (por ser um boto meio descansado), e o 'Miranda', já falecido, que era o mais estimado de todos.
Esta é a história de uma singular sociedade, constituída de botos e homens. Não é mito, nem fábula. 'No começo era a fábula', dizia Valéry.Na verdade, em tal caso, o mito é superado pela realidade; é a própria lenda avant la lettre; dir-se-ia que modestos pescadores corrigem Valéry: 'Aqui a realidade é que precede à fábula. Os mitos vêm depois. A fábula, entre nós, perdeu a imaginação. A fantasia está na própria vida'".

Jorge Lacerda, nosso governador intelectual




O governador na foto oficial (1956): morto tragicamente no exercício do poder. Na imagem do meio, capa do livro que comprei num sebo; na última imagem, dedicatória assinada pela viúva, pela filha e pelo organizador da obra

O ano que entra daqui a 37 dias assinala o cinqüentenário da morte do governador Jorge Lacerda, que estava no segundo ano de seu mandato quando, em viagem aérea de Florianópolis para o Rio de Janeiro, acabou vítima de um acidente no Paraná. Morreram também naquele desastre aviatório, em 16 de junho de 1958, o senador Nereu Ramos e o deputado Leoberto Leal.
Lacerda era um jovem de 43 anos e um verdadeiro fenômeno político. Médico e advogado, filho de imigrantes gregos, nascido em Paranaguá (PR), elegeu-se duas vezes deputado federal (1950 e 1954), pelo Partido de Representação Popular (PRP), pequena sigla ancorada na União Democrática Nacional (UDN).

Por causa de seu preparo intelectual e pelo conhecimento que tinha sobre Santa Catarina, tornou-se uma espécie de candidato natural à sucessão de Irineu Bornhausen (UDN) no pleito de 1955. A UDN não tinha nome forte para impedir a vitória do PSD, representado naquela eleição por Francisco Benjamin Gallotti. Assim, Lacerda, pela proximidade com o partido de Bornhausen, acabou sendo o escolhido.
Foi uma disputa apertada: o candidato governista fez 172.548 votos, contra 169.412 votos concedidos a Gallotti. [Eleitorado total: 496.185 – Votantes: 351.443].

Essa é a parte política sobre Lacerda, um governador que marcou seu curto período de mandato pela realização de obras fundamentais para Santa Catarina, entre as quais a construção da usina termelétrica da Sotelca (depois chamada Jorge Lacerda), em Tubarão (hoje Capivari de Baixo). Começou a asfaltar rodovias e também deu início às obras do Instituto Estadual de Educação, em Florianópolis.

Mas Lacerda era muito mais que um político. Era um intelectual brilhante, dos mais destacados do Brasil na década de 1940. Formado em medicina e direito, deixou o Paraná e foi viver em São Paulo e Rio de Janeiro, onde trabalhou como jornalista. Fundou e dirigiu o suplemento literário Letras e Artes, do jornal A Manhã, até hoje considerado um dos mais importantes cadernos culturais do Brasil. Através dessa atividade, conviveu com os grandes intelectuais da época, como Augusto Frederico Schmidt, Otávio de Faria, Adonias Filho, Dinah Silveira de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Otto Maria Carpeaux, Henrique Pongetti, Manuel Bandeira, Flávio de Aquino, o catarinense Salim Miguel, entre outros.
Lacerda conquistou o respeito dos leitores e dos escritores brasileiros, pela forma dedicada com que se debruçava sobre a cultura. Aliás, abandonou a medicina e o direito para abraçar o jornalismo cultural. E foi um mestre!

Um livro, uma dedicatória

Há uns tempos, garimpando bons livros num sebo de Itajaí, descobri uma raridade: "Jorge Lacerda – Democracia e Nação – Discursos Políticos e Literários (obra póstuma)". Editora José Olympio, Rio de Janeiro, 1960. Na folha de rosto, uma dedicatória familiar que dá ainda mais valor à obra: "Para os prezados primos... oferece(m) Kyrana, Irene e Nereu Corrêa. Fpolis, 18-1-1961". Nereu Corrêa, grande intelectual catarinense, foi o organizador do volume. Kyrana, a viúva do governador, e Irene, uma das filhas.Dessa preciosa obra, que conservo com muito carinho, extraí o texto sobre Santa Catarina que vai publicado no próximo post. [Role a página para cima].

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Novo jornalismo

Jornalistas da RBS trabalham a todo vapor na estruturação do DC On-Line, primeiro jornal eletrônico de Santa Catarina a divulgar o noticiário em tempo real, a exemplo do que já acontece com O Globo, Estadão e Folha de S. Paulo, entre outros. Pelo que apuramos, o DC On Line não vai eliminar o Clic RBS, mas é possível que o portal noticioso seja integrado à nova plataforma.

Aqueles anos inesquecíveis

Grato ao Leopoldo Pelin, que me enviou dois arquivos maravilhosos (em Power Point), nos quais a nostalgia é a tônica.
E vejam bem: quando falamos em saudade de uns tempos felizes estamos nos referindo às décadas de 1960 e 1970. Não pensem que a nossa memória pessoal (minha, do Leopoldo e de outros leitores) recua muito além disso.
É interessante observar, como adendo ao que foi dito aqui durante a semana, que não estamos dizendo que "naquela época era melhor". O papo é outro. Naquela época era diferente. Não havia tanto consumismo, não usávamos cinto de segurança nos carros, saíamos de casa com a recomendação de voltarmos à noite (e voltávamos sempre), não tínhamos celular nem aparelho de telefone fixo, muitos de nós vivíamos na escuridão (a energia não era privilégio de todas as cidades), a música que ouvíamos era um bálsamo para os ouvidos... E aqui fazemos uma pausa: nós tínhamos os Beatles, Pink Floyd, Creedence, Stones, Bob Dylan, Cat Stevens, Gil, Caetano, Chico, Vandré, Tom, Vinícius, Elis... Não era o máximo?

Está bem. O Magoo (Bonassoli) pode me corrigir, ele que sabe tudo de música. O cenário musical de hoje não é de todo ruim. Há bom rock, bom jazz, boa MPB. Mas a "cultura de massas" ainda nos empurra pagode e sertanejo de péssima qualidade, além de um funk bem ruinzinho, numa insistência danosa aos nossos tímpanos. A cultura de massas lá de trás tinha o Odair José e o Reginaldo Rossi, este ainda por aqui, mas havia um contraponto fabuloso nas rádios em geral (o meio mais comum de se ouvir música). Posso dizer que o dominante na programação daquelas rádios era a música de qualidade: os da minha geração por certo devem lembrar das rádios Anita Garibaldi, Guarujá e Diário da Manhã, as melhores do dial de ondas médias (hoje chamadas de rádios AM). Na Anita ouvia-se bossa nova e jazz; na Guarujá, bossa nova, MPB e orquestras (esta rádio tinha um programa ao meio-dia chamado "Almoçando com Música"); na Diário, MPB, bossa nova e pop-rock.

Acabei me alongando neste assunto. Mas o objetivo geral desta intervenção é focalizar a nossa concentração infantil e adolescente em recortes interessantes da cultura nacional da época, porque não havia consumismo como hoje, nem a dispersão intelectual que o consumo provoca. (*)
Sei que há muitos jovens de hoje que resistem a tudo isso, que não ficam enchendo a paciência dos pais para que lhes comprem um novo aparelho celular a cada três meses. Tampouco cedem seus ouvidos à tentação fácil do pagode e do funk baratos. E ainda lêem bons livros, que eles garimpam nos sebos das grandes cidades. São estes jovens que nos dão alguma esperança quanto ao presente e ao futuro.

(*) Li recentemente, numa matéria sobre os discos de vinil, que antes do CD e do MP3 os artistas e gravadoras eram obrigados a selecionar ao máximo o repertório a ser incluído num LP. Simples: no LP só cabiam 14 ou 15 minutos de música de cada lado. Assim, não era qualquer bobagem que entrava num lançamento, porque o processo industrial era muito caro. Hoje, com MP3, um artista pode deliciar nossos ouvidos com 20 ou 30 minutos de boa música... e entupir os mesmos ouvidos com mais 60, 90 ou 120 minutos de coisas absolutamente descartáveis. É isso que nós chamamos de dispersão intelectual: acabamos consumindo o que não nos interessaria, caso as próprias fontes culturais fossem mais seletivas.

Películas polêmicas

Nessa polêmica sobre vidros de automóveis escurecidos com película, já ouvi de um amigo ligado à polícia que o efeito desejado por quem os coloca, a suposta segurança, na verdade pode ter o resultado contrário. Bandidos amadores, que geralmente agem sob forte emoção, podem perder a cabeça diante de vidros muito escuros, atirando nervosamente no interior do veículo.
Mas película tem um conforto que é fundamental nesses tempos de aquecimento global: diminuem o calor dentro do automóvel.

Repercussão nacional

A morte da publicitária Maria Eliana da Cunha Aragon Antinolfi ganhou destaque nacional. Ela se submetia ontem a uma cirurgia de lipoaspiração, no Hospital São Sebastião, em Florianópolis, quando teve problemas cardíacos e morreu.
Conheço bem o médico Rogério Gomes, responsável pela operação, desde 2004, quando fiz uma longa entrevista com ele, em razão do Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica, realizado na capital catarinense. Nosso encontro foi no Hospital São Sebastião, onde fica sua clínica. Fiquei impressionado com os avanços que o profissional me apresentou. Naquela noite, ele e um colega estavam realizando uma cirurgia plástica numa paciente norte-americana, através da web.
Gomes disse hoje, segundo o Clic RBS, que Maria Eliana pode ter morrido em conseqüência da combinação de um remédio de tarja preta (cujo uso ela não revelara nas consultas) com a anestesia aplicada para realização da cirurgia plástica.

A sordidez tolerada pelo Estado

O noticiário podre dos últimos dias (últimos dias?) nos faz pensar: uma adolescente colocada numa cadeia repleta de homens não é um sintoma de que o País chegou ao nível mais sórdido, mais bárbaro, de desprezo à vida e à dignidade humana? Ah, mas alguém pode dizer: "Isso foi lá no Pará, onde a vida tem outro significado (sic)". Querendo dizer, evidentemente, que o Pará e outros Estados nordestinos possam ser alguma coisa de nível menor na escala geral de valores da sociedade. Não interessa se foi num grotão do Pará, da Paraíba, da Bahia ou do Rio Grande do Sul. O fato é que o Estado brasileiro está perdendo a capacidade de proteger seus cidadãos. Se um Estado não protege seus cidadãos – e as condições deploráveis das cadeias, das escolas, dos postos de saúde, das estradas, são generalizadas – para quê, então, existe o Estado? Para empregar (ou ajudar) os amiguinhos, os afilhados, os filiados e os parentes dos poderosos. É só isso.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Imprensa alternativa


Nos anos 1970, a imprensa alternativa – que se opunha aos jornalões – era chamada de "nanica". Pequenos veículos de comunicação incomodavam muita gente, principalmente os poderosos de plantão. Alguns desses jornais entraram para a História do Brasil, como O Pasquim, Opinião, Movimento, O Trabalho, Em Tempo etc. Alguns, como os três últimos, eram ligados a movimentos de esquerda (grupos marxista-leninistas e trotskistas). Mas ainda assim eram imprescindíveis aos debates e reflexões.
Na época do regime militar, esse tipo de imprensa tinha uma razão de ser – a oposição pura e simples à ditadura, na construção de discursos razoavelmente transformadores. Nos jornais trotskistas, por exemplo, estava a semente do Partido dos Trabalhadores (PT).

Mais recentemente, em plena vigência das liberdades democráticas, constatamos que há alguns exemplos de jornalismo alternativo no País e no Estado. São veículos bem-editados, que mantêm o princípio de oposição aos poderosos de plantão e à chamada grande imprensa.
Hoje, por recomendação de nossa leitura que se identifica como Bruxinha Nova (e que eu sei, por razões funcionais, ela não pode revelar seu nome verdadeiro), fui ler A Gazeta de Joinville. Um jornal polêmico, onde o subtexto não existe: as matérias são sempre diretas, sem perder o foco no verdadeiro jornalismo, aquela coisa de se ouvir os dois lados, o texto bem-acabado etc. Aliás, na edição de hoje a matéria que dá manchete à Gazeta é deveras importante, revelando bastidores do Governo do Estado, em especial a suposta utilização de uma produtora de vídeo, que presta serviços ao poder público, em pautas particulares das autoridades. (Se o leitor gosta de uma boa lama – atirada no ventilador – leia a matéria completa AQUI).

Curiosamente, recebi no calçadão de Florianópolis um exemplar de outro jornal alternativo – o Impacto Santa Catarina. Também polêmico, provocativo, que trata os poderosos sem nenhum pudor ou concessão. Olhando para o expediente (aquele quadrinho onde se identificam os responsáveis por qualquer publicação), percebi que não há ninguém conhecido. Também nenhuma informação quanto aos proprietários do jornal, que é semanal e traz noticiário de Blumenau, Florianópolis, Joinville, Lages, Jaraguá do Sul, Itajaí, São José, entre outras cidades. Nas matérias, uma linguagem assumidamente inspirada no Diarinho (de Itajaí), onde o Cesar Valente tem uma coluna diária.
O Impacto continua sendo um mistério para mim, desde que li a primeira edição (está na quinta). Já me disseram que pertence a um conhecido empresário, ligado a uma igreja evangélica, ex-candidato ao Governo do Estado e provável candidato a prefeito de Florianópolis no ano que vem. Não sei, por isso não arrisco a colocar aqui o nome do dito.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Diversões baratas

Grato ao Paulo Dutra, que me mandou um belo ensaio fotográfico sobre os sorvetes da Kibon.
Ainda sobre a felicidade a custo baixo, que tal os chicletes Ping-Pong, os álbuns de figurinhas, os gibis do Zorro, Tarzan, Batman, Superman, entre outros?
O refrigerante Crush, a água tônica da Antarctica, os chocolates Sonho de Valsa e Diamante Negro (como bem lembrou o Sérgio), os tênis Conga e Bamba, a calça Farwest (precursora da jeans no Brasil), um radinho de pilha que sintonizasse a rádio Mundial do Rio, pra se ouvir na cama antes de dormir...
Como a gente se deliciava com tudo isso – e era tão pouco!
Hoje o difícil é escolher, entre milhares de opções, aquilo que tenha um preço justo e não estrague em menos de uma semana.

P.S. – Almoçando há pouco num desses restaurantes de comida por peso, percebi que o paliteiro à minha frente tinha a marca Gina, com aquela estampa da moça loira. Interessante é que a embalagem é a mesma há umas quatro ou cinco décadas. É fato que aquele sorriso loiro me persegue desde a infância... e a garota da foto nunca envelheceu!

PP faz estragos

Nunca antes na História deste Estado uma nomeação de desembargador foi contestada judicialmente, da forma como está sendo a de João Henrique Blasi. Houve casos de pretendentes ao cargo que tiveram de esperar anos (caso do ex-presidente da OAB e jornalista Carlos Alberto Silveira Lenzi), mas não como esta de Blasi.
O que se coloca em questão não é apenas a dedicação do novo desembargador a atividades políticas, que se sobrepuseram, segundo entendimento da Justiça Federal, às operações do Direito. Mas o que está em jogo é a própria autoridade do governador do Estado, Luiz Henrique da Silveira, que assinou o ato de nomeação na segunda-feira à noite e determinou a Blasi que assumisse o cargo no TJ na manhã do dia seguinte. Tomou posse e foi destituído no mesmo dia.
É possível que, ao fim e ao cabo, Blasi acabe sendo referendado como desembargador. Mas o estrago já foi feito.

A história envolvendo João Henrique Blasi lembra uma outra, também recente: a não-diplomação do prefeito eleito de Florianópolis, Dário Berger, em dezembro de 2004. A liminar concedida – e apresentada momentos antes do ato oficial do TRE – também decorreu de uma ação impetrada pelo PP. Berger recorreu e acabou diplomado e empossado. O galego, como Blasi, também chegou ao cargo com o apoio decisivo do atual governador.

Direito e política

João Henrique Blasi é peemedebista desde criancinha.
Já o novo ministro do Superior Tribunal de Justiça, Jorge Mussi, foi dirigente da Arena Jovem nos anos 1970, integrando o grupo que cercava o então presidente do Besc, depois governador, Jorge Bornhausen. A diferença é que Mussi abandonou a militância política para se dedicar exclusivamente à advocacia. Chegou ao TJ na mesma condição de Blasi – pelo quinto constitucional reservado à OAB.

A mesma Globo de sempre

Se a Seleção Brasileira perder hoje para o Uruguai, a culpa deverá ser inteiramente debitada à Rede Globo de Televisão. A rede criou um clima de “já-ganhou” (ou de “tem-de-ganhar-de-qualquer-jeito”), com base na sua caixa registradora. Não há nenhum patriotismo nisso: a Globo é quase-sócia da CBF. O ufanismo da rede chega a lembrar os tempos do regime militar, de general-presidente com radinho de pilha no ouvido e tudo o mais. A diferença é que, à época, a questão era de fidelidade ao regime. Hoje, é de fidelidade ao capital.
Curioso é que na Rede Globo é proibido falar mal da seleção. Já nos outros veículos, principalmente a CBN nacional, o pau come solto quando se trata de criticar Dunga e seu, digamos, “estilo”.

Tédio

Este blogueiro anda chegando atrasado pro batente nos últimos dias. Problemas técnicos, e um certo tédio em relação a tudo o que acontece por aí, são as explicações. Peço desculpas aos leitores e prometo normalizar as entradas por aqui até sexta-feira.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Chicabon 65

Uma das paixões da vida deste blogueiro, o Chicabon, maravilhoso picolé da Kibon, está completando 65 anos de existência.
Estou aqui, festejando esse aniversário, como se festejasse o aniversário de um amigo querido ou de um parente.
Na minha infância, chegar a um Chicabon, vendido nos carrinhos da Kibon na Praia de Camboriú, era uma conquista. Tão extraordinária quanto tomar uma Coca-Cola de 200 ml (aquela garrafinha pequena) ou um guaraná Antarctica caçulinha.
A felicidade custava tão pouco!

Homenagem

Hoje, Dia da Consciência Negra, uma homenagem especial deste blog à memória de Cruz e Sousa e Antonieta de Barros, dois símbolos da cultura e da educação em Santa Catarina (ela, também da política).

Protestos

Servidores públicos começaram hoje pela manhã a fazer barulho na frente do Palácio do Governo, chamado de Centro Administrativo pelas doutas autoridades que nos governam, na SC-401.
Quando transferiu o palácio para lá, o atual governador quis exatamente inviabilizar as manifestações dos funcionários públicos, por causa da falta de rua para a promoção dos protestos. O que ele não esperava é que, na falta de rua, os servidores fecham mesmo a rodovia.
Ainda a esse propósito: se os servidores brasileiros tivessem o poder de mobilização dos franceses, a história de seus movimentos seria bem outra. A França está parada há dias, acumulando prejuízos de 300 milhões de euros diariamente, por conta de uma greve dos funcionários de lá.

A pedra no caminho

João Henrique Blasi tinha tudo para chegar ao Tribunal de Justiça com todas as glórias possíveis. Advogado conhecido, engajado em todas as lutas sociais e políticas desde a década de 1970, filho de um dos notáveis do Direito catarinense, Blasi nunca escondeu a militância no PMDB, tampouco o gosto pelas atividades legislativas. Deputado estadual, ex-secretário da Justiça e da Segurança, é um homem público por excelência.
Mas a pedra no meio de seu caminho também tem natureza política. Os que ingressaram na Justiça para impedir sua posse como desembargador são filiados ao PP, notórios adversários do PMDB. O que assina em primeiro lugar a ação popular, César Bleyer Bresola, é um engenheiro eletricista, funcionário da Celesc e ex-vice-prefeito de Campos Novos.
A alegação é de que a vaga do quinto constitucional, reservada à OAB, destina-se a advogados militantes. Blasi não seria, por estar envolvido diretamente na atividade parlamentar (e há quatro legislaturas).Aguardemos, pois, os desdobramentos do caso, inclusive a possível posse do veterano líder Edison Andrino no lugar de Blasi na Assembléia Legislativa.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

O pseudônimo e o autor

Imperdível, para quem gosta de se divertir com histórias de plágios e fraudes intelectuais, o que escreveu Mino Carta no seu blog, dia 16 último, post das 17h51. Trata-se da revelação de uma tremenda desventura, para dizer o mínimo, envolvendo o escritor catarinense Paulo Ramos Derengoski, pesquisador da História do Estado, em especial do Contestado e da região do Planalto Serrano.
A coisa é muito interessante. Leiam . Grato à Bruxinha Nova, que me recomendou a leitura do blog do Mino.

25 anos das diretas para governador

Em 15 de novembro de 1982, o Brasil realizou eleições históricas para a escolha direta dos governadores, 17 anos depois do último pleito democrático. Em Santa Catarina, o eleito foi Esperidião Amin, do Partido Democrático Social (PDS), sucessor da Aliança Renovadora Nacional (Arena), grupo político que apoiava o regime militar.
O opositor de Esperidião Amin era Jaison Tupy Barreto, um aguerrido parlamentar do grupo autêntico do PMDB (centro-esquerda), que combateu a ditadura durante toda a década de 1970, seja na Câmara Federal, seja no Senado (ele era senador em 1982, mandato que terminou somente em 1986).
Muita gente até hoje não entende por que Jaison não se elegeu. Há os que culpam um certo "erro na contagem" dos votos, que teria favorecido Amin e Jorge Bornhausen, este eleito senador naquela disputa.
Nada ficou provado. O que ficou comprovado é que eleições com bons nomes se confrontando costumam mesmo provocar resultados apertados. Veja os números:

Esperidião Amin 838.150
Jaison Tupy Barreto 825.500
Eurides Mescolotto (PT) 6.803

Número de eleitores 2.107.512
Votantes 1.831.811
Votos brancos 121.927
Votos nulos 32.578

A diferença de 12.650 votos entre Amin e Jaison motivou recursos, protestos, brigas. À época, havia referência a certas urnas de Laguna que teriam sido fraudadas. Como nada disso adiantou, Amin assumiu o cargo de governador em 15 de março de 1983.

Senado

Para o Senado, a situação foi ainda mais apertada. Veja os números:

Jorge Bornhausen (PDS) 816.386
Pedro Ivo Campos (PMDB) 814.947
Valmir Martins (PT) 6.719

Votos brancos 149.943
Votos nulos 37.314

A diferença de apenas 1.439 votos entre Bornhausen e Pedro Ivo também motivou protestos e confusão. Os peemedebistas inconformados apontavam irregularidades na apuração dos votos, baseados numa teoria muito frágil, de que Bornhausen seria "ruim de voto". O político conservador provou que isso era uma mentira: elegeu-se senador de novo, em 1998. E dessa vez ninguém falou em fraude.

Feriadão com chuva

Praia do Estaleiro, Balneário Camboriú, no feriadão que acabou ontem: a pesca foi a diversão dos turistas durante os dias de frente fria

Fora do ar

Peço desculpas aos leitores do blog pela ausência no fim de semana. Problemas de saúde, aliados a um compromisso fora de Florianópolis, me mantiveram distante do computador. Por essa razão, só hoje estou publicando o texto sobre os 25 anos da primeira eleição direta para governador, realizada ainda durante a ditadura militar.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

HÁ QUASE 30 ANOS

Uma vista da capital catarinense, final da década de 1970: a província já tinha jeito de cidade grande, embora não verticalizada [imagem escaneada de um livro sobre Santa Catarina editado no governo de Jorge Bornhausen]

Território sem lei

A região da cabeceira insular das pontes Colombo Salles e Pedro Ivo Campos é perigosíssima. Lá, foi encontrado ontem o corpo de um garçom, que havia desaparecido no último sábado. Mas a polícia não quer nem saber das pontes. Por causa da insegurança no local, fecharam os acessos para pedestres que permitiam a travessia ao Continente. Assim, em razão da criminalidade que dita as regras nas cabeceiras das pontes, nenhum de nós pode andar ou pedalar em direção ao Estreito ou Coqueiros.

Lembro-me das mansas manhãs de domingo, há uns 20 anos, quando assistíamos e batíamos fotos dos remadores que disputavam as regatas, honrando as camisas do Aldo Luz, Martinelli e Riachuelo (meu irmão Marcão entre eles). A passarela de pedestres era local onde se reuniam os pescadores amadores, desde a madrugada, para garantir uma mesa farta às suas famílias. Tempos depois, quando os malacos começaram a viver no lugar, a polícia abandonou sua função e deixou as passarelas ao deus-dará. Lá é um território sem lei. O Estado, tão zeloso quando se trata de reprimir manifestações sociais e políticas, pouco se importa em manter a ordem naquele lugar macabro.

Não querem largar o osso

Na coluna do Cláudio Humberto, edição desta quinta-feira, há várias notas sobre uma molecagem que está sendo engendrada nos bastidores do poder, supostamente com o dedo de José Dirceu e Ricardo Berzoini. Trata-se de uma proposta de plebiscito para que o povo decida se quer ou não quer mais um mandato para o presidente Lula. Algo de franca inspiração chaviana (ou bolivariana), que trata a democracia como uma brincadeira, baseada na distribuição permanente de favores - o clientelismo populista.
Se tal ocorrer, mesmo que seja de fato um plebiscito realizado na forma da lei, estaremos marchando para um novo tipo de regime político no Brasil, marcado pelo autoritarismo e pela vontade (deles) de não largar o osso.
O perigo de uma iniciativa desse gênero é produzir o efeito contrário: a radicalização dos grupos conservadores, mesmo aqueles que não admitem golpismos (à esquerda e à direita).

A pronúncia que soa como música

Dá gosto ouvir a apresentadora Camile Reis, da RBS TV, pronunciando corretamente o nome da Avenida Gustavo Richard (Richárd, e não Ríchard, porque o ex-governador era descendente de franceses). Parece coisa pouca, mas para quem gosta de Florianópolis é muito.
Ah, sim, na rádio CBN-Diário tem um repórter que também está caprichando na pronúncia certa. Se não estou enganado é o Rafael Faraco.

Dividindo a pobreza

O censo do IBGE descobriu que 444 cidades brasileiras tinham menos habitantes do que era estimado anteriormente. Com isso, essas cidades perdem valores substanciais do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), calculado sobre o total de habitantes.
Tal revelação aparece no exato momento em que parlamentares irresponsáveis discutem, no Congresso Nacional, uma medida de "liberou geral" para que possam ser realizados novamente os plebiscitos emancipatórios. Faz mais de uma década que a farra de criação de novos municípios acabou. De que adianta emancipar distritos pobres, com gente pobre, que vai continuar pobre (mas pobre emancipado, o que é mais chique, pelo menos para certos políticos clientelistas)?

Nosso governador, Luiz Henrique da Silveira defende, sempre que pode, a multiplicação dos municípios. Ele acha que 293, o número atual de Santa Catarina, é pouco, porque na Alemanha há mais de cinco mil cidades etc. e tal. Mas a Alemanha é a Alemanha, primeiro mundo, país rico, com uma história social, cultural e econômica totalmente diferente.

Na verdade, quem defende a criação irresponsável de mais municípios, sob o pretexto da descentralização (êta palavrinha desacreditada em Santa Catarina), quer apenas multiplicar a pobreza, porque não há orçamento federal, nem estadual, muito menos municipal, que possa dar conta das carências desses novos municípios. Ao invés disso, as doutas autoridades deveriam era lutar para fortalecer as cidades que existem - e até reduzir o número delas, fazendo com que alguns distritos emancipados (e falidos) voltassem a pertencer às cidades originais.

Correção

Uma correção (grato, Cesar Valente): o jornalista Ivan Rupp assina também uma coluna semanal (às segundas-feiras) no Diarinho, publicado em Itajaí.

Bálsamo

Mais um bálsamo para os ouvidos e para o coração: o menino Luciano Guimarães, de apenas 14 anos, foi um dos entrevistados do Programa do Jô na madrugada desta sexta-feira. Menino da periferia de Salvador, ele é um dos maiores talentos da música lírica nacional.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Cadafalso

O senador Renan Calheiros não pode respirar aliviado, porque a Comissão de Ética do Senado recomendou sua cassação. O caso vai a plenário no dia 22 deste mês. Sendo quem é, Calheiros com certeza deve ter cartas (ou dossiês) na manga, para intimidar seus colegas de Parlamento.

Rotos e esfarrapados

Lula ofereceu solidariedade ao bobo da corte da América Latina, o colega venezuelano Hugo Chávez, que recebeu um pito público do rei de Espanha, D. Juan Carlos.
Mas Lula ser solidário com Chávez, neste caso, nos lembra aquela história do roto e do esfarrapado...

Feras proibidas

O projeto do deputado catarinense Marcos Vieira (PSDB), que proíbe a criação de pitt bulls no Estado, foi aprovado na terça-feira pela Assembléia Legislativa. Ganhou repercussão nacional (leia AQUI).
Cabe agora ao governador Luiz Henrique vetar ou aprovar a lei.
O caso é polêmico, tanto quanto o outro, do deputado Manoel Motta (PMDB), que proíbe modelos muito magras de exercerem suas atividades profissionais em Santa Catarina.

Décadas e décadas

Outro dia, o Paulo Stodieck me perguntou por que escrevo década em milhar (1950) e não em dezena (50).
Há um critério nisso, meu caro Paulo, pois logo passaremos para a década de 10 do século 21. Logo, quando nos referirmos à igual década do século anterior, teremos que grafar "década de 1910", para não confundir. Uma alternativa seria adotarmos o "década de 10 do século 20". Mas isso em jornalismo fica muito comprido e complicado. No nosso caso (jornalistas) precisamos ser objetivos para que a boa comunicação não seja prejudicada.
Confesso que não lembro onde li pela primeira vez essa recomendação (não sei se na Folha ou no Estadão). Mas sei que existe uma orientação expressa nesse sentido, voltada aos jornalistas.

Fim de jogo

Há uma geração inteira de amigos, um pouco mais jovens do que este blogueiro, que deve estar se afogando em lágrimas ou em baldes de cerveja. A Atari anunciou nesta terça-feira que não vai mais fabricar seus games. A razão é financeira: a companhia teve prejuízo de US$ 11,9 milhões no segundo trimestre deste ano.

Ainda a BR-101

Um abraço pro amigo Ivan Rupp. Colunista da TV Brasil Esperança, de Itajaí, ele citou este blog (especificamente o post sobre as pontes da BR-101) na edição desta quarta-feira. Ivan é dos grandes talentos do jornalismo catarinense.

Biscoito fino

Paulinho da Viola no Programa do Jô, há pouco, mostrou porque ainda é o melhor sambista brasileiro. É biscoito fino, de primeiríssima.

Folga

Como sempre, uma folga regulamentar para o blog neste 15 de novembro. Volto na sexta-feira. A não ser que algum fato extraordinário justifique alguma intervenção por aqui.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

EXPRESSIONISMO ILHÉU

Mais uma foto de Florianópolis surrupiada do acervo do Velho Bruxo. Uma cidade irreconhecível, na década de 1950, numa imagem de acentuado clima expressionista. Quem terá sido o fotógrafo?

Com ele ninguém pode

Depois que a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou, na noite desta terça-feira, a prorrogação da CPMF, Lula pode dormir mais tranqüilo e acordar com a sensação de que, definitivamente, ninguém pode com ele (ou contra ele). Isso é um perigo, mas ainda tem o plenário. Lá, a vitória ainda é incerta.

As obras que faltam

O jornalista Breno Maestri, assessor do DNIT, esclarece, a propósito do post sobre a ponte em Balneário Camboriú, onde morreu uma motorista na segunda-feira: “A duplicação da BR-101 Norte teve seu projeto de duplicação condicionado à concessão das rodovias, processo que se arrasta desde 1996, no que diz respeito ao alargamento e reforço de todas as pontes antigas. Diante disso, o DNIT tem se limitado a recuperar o que é destruído em cada acidente. Ao contrário, na duplicação do trecho Sul, a rodovia, em toda suas extensão, será restauradas, assim como as pontes serão reforçadas e alargadas para terem acostamentos, passarelas e ciclovias, devidamente protegidas do tráfego”.

Deu a lógica

Foi absolutamente tranqüila a eleição do professor Álvaro Prata para a Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina – ele levou 59,73% dos votos. Com isso, não haverá segundo turno. O candidato das “esquerdas”, Nildo Ouriques, ficou com 38,56%. Prata se deu melhor que o atual reitor, Lúcio Botelho, que teve de encarar o segundo turno, contra Ouriques, em 2004.

Sábia decisão

O garoto Riquelme, que salvou um bebê num incêndio em Palmeira, interior de Santa Catarina, vai sair do foco da mídia. Terá acompanhamento psicológico em sua cidade.
Nada mais correto.
Aliás, o Ministério Público e a própria Justiça não deveriam ter permitido essa exploração barata.

O patético e o herói

Pelo que se lê na Internet, a rejeição a Hugo Chávez é quase uma unanimidade mundial. Ele é considerado um personagem patético da História, enquanto o rei de Espanha é saudado como um herói da civilização.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Dúvida

Quantos meses mais o ministro Nelson Jobim consumirá para dar um jeito no sistema aéreo brasileiro?
Pior: será que Jobim agüentará mais alguns meses no cargo?
Ele já dá sinais de cansaço. Ou fomos nós que cansamos de tanta pose e pouca eficiência?

As pontes da BR-101

Mesmo duplicado, o trecho Norte da BR-101 não é seguro. Acidentes como o de ontem, que causou a morte de uma mulher, são comuns e cada vez mais graves. A ponte sobre o rio Camboriú é um perigo constante. A proteção lateral (mureta) é a mesma dos tempos em que os automóveis eram carroças com motor. Se fosse em concreto ou aço, com certeza o carro não teria mergulhado no rio.
O problema é idêntico na ponte de Navegantes e em muitas outras entre Florianópolis e Joinville.
O atual governo pode dizer que não tem nada com isso, porque a duplicação aconteceu, a facão, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Mas FHC deixou a Presidência da República em 2003.

Sucessão na UFSC

Cansado das atividades administrativas, o reitor Lúcio Botelho não quis participar do processo eleitoral de hoje, na Universidade Federal de Santa Catarina.
Para evitar a vitória dos bolivaristas, que têm um candidato forte à sucessão do atual reitor, algumas personalidades históricas da UFSC estão envolvidas no processo há alguns meses, atuando incansavelmente nos bastidores. Está em jogo o futuro da instituição, que não tem conhecido a paz interna nos últimos anos.

Infância exposta

O fato - Um menino de cinco anos salvou um bebê de um incêndio. Ele estava vestido de Homem-Aranha.

O show - Transformado em celebridade, Riquelme dos Santos é chamado de "menino-herói" pela mídia.

O perigo - Ainda que seu ato heróico seja louvável, sob todos os aspectos, o garoto estará preparado para assimilar a súbita fama e suportar, depois, o ostracismo que a mesma mídia lhe reserva?

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Pensando a Cidade

Três ex-prefeitos de Florianópolis participam hoje à noite de um debate na Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), dentro de uma programação denominada "Pensando a Cidade", desenvolvida pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon). Edison Andrino (PMDB), Sérgio Grando (PPS) e Angela Amin (PP) foram os três que governaram a cidade entre 1986 e 1989, 1992 e 1996, 1997 e 2005, respectivamente. Nenhum dos três é candidato declarado à sucessão municipal de 2008.
Andrino está desconfortável em seu partido, por causa da ingerência do governador Luiz Henrique da Silveira e de fiéis seguidores de sua excelência, filiados a outros diretórios municipais, como a deputada Ada de Luca, que tem domicílio eleitoral em Laguna e tenta controlar a executiva da Capital.
Grando assegurou a este blogueiro, durante almoço na semana passada, que não disputará a eleição do ano que vem, preferindo continuar na Assembléia Legislativa, para apresentar "projetos de interesse da Grande Florianópolis".
Angela é uma carta na manga, citada por nove entre dez florianopolitanos como a candidata ideal para evitar que o atual prefeito, Dário Berger, seja bem-sucedido em sua pretensão de se reeleger em 2008. Parte da cidade praticamente está exigindo a candidatura de Angela (ou do marido Esperidião).

Rodízio dobrado

Ontem, falei aqui sobre a saturação do trânsito em Florianópolis. Está se tornando impossível trafegar de automóvel pela cidade em certos horários – e não apenas em dias críticos, como as sextas-feiras. Um taxista que trabalha mais de 12 horas por dia me disse na semana passada que não existe mais horário de rush na capital catarinense. “Rush é toda hora, todo dia”, afirmou.
Hoje, no Estadão, tem uma matéria sobre a situação do trânsito em São Paulo. Lá, como aqui, a questão está se tornando dramática. É tão séria que as autoridades estudam a implantação de um novo sistema de rodízio de automóveis: ao invés de dia-sim, dia-não, a prefeitura deve adotar o dia-sim, outro-também. Ou seja, o rodízio passaria a ser de dois em dois dias.Em Florianópolis, já se fala no rodízio como solução para o trânsito. O problema é que muita gente vai passar a ter dois carros (se já não tem...), um com placa par, outro com placa ímpar. Geralmente um deles é mais velho, em más condições mecânicas, como já acontece em São Paulo.

Reinventando a História

A história da nova plataforma de petróleo descoberta pela Petrobras não foi bem contada pelo governo. A verdade é que o anúncio da semana passada foi o que chamamos no jargão jornalístico de "factóide". Na falta de novidades, o governo reinventou (ou requentou) uma descoberta já anunciada em 2005.
Que feio.
Esse governo, aliás, está se especializando em reinventar a História. Na semana passada, ouvi no rádio que o IBGE está revisando os índices oficiais de crescimento do Brasil relativos aos últimos anos. Como os números eram muito baixos, os gênios do governo resolveram determinar outros critérios, com o objetivo de melhorar o desempenho governamental.

domingo, 11 de novembro de 2007

MARTINHO DE HARO, 100 ANOS

Capa do livro comemorativo ao centenário de nascimento do pintor Martinho de Haro, que está sendo lançado neste domingo. Florianópolis era o tema favorito do grande artista. O Museu de Arte de Santa Catarina expõe, de hoje a 2 de dezembro, algumas das telas mais fascinantes dele. Confira a programação (e outras telas) AQUI.

História preservada

O belo casarão onde morava a ex-primeira dama do Estado Ruth Hoepcke da Silva, na Avenida Trompowsky, vai ser preservado. A decisão é das filhas de dona Ruth, Annita e Sílvia, duas florianopolitanas da gema que já deram imensas provas de amor à cidade.
Portanto, segundo informa ao blog o vereador Guilherme Grillo, neto de Aderbal Ramos da Silva e Ruth, mais uma parte da memória de Florianópolis vai ser conservada graças à iniciativa particular do Grupo Hoepcke, cuja história se confunde com o próprio desenvolvimento urbano, industrial e comercial da região metropolitana da capital catarinense.

Exemplo

O rei Juan Carlos, da Espanha, disse a Hugo Chávez aquilo que milhões de pessoas em todo o mundo gostariam de dizer: "Por que não se cala?".
Chávez é um imperfeito bobo da corte, que já chegou ao limite da mais franca idiotice. Precisava mesmo levar um pito público de alguém que entende de educação e civilidade.
E o pior é que o presidente venezuelano ainda considerou “grosseria” a atitude do rei... Logo quem.

A prova do caos

Quem viu o que aconteceu ou estava no trânsito de Florianópolis, na tarde de sexta-feira, já está convencido de uma coisa: chegamos ao caos completo. Não há mais condições. Percorrer dois ou três quilômetros em uma hora ou mais é o sinal mais clamoroso de que a cidade, assim como toda a região metropolitana, já entrou no nível da inviabilidade total.
Crescer mais? Pra onde? Santo Amaro? Águas Mornas? São Pedro de Alcântara? Pobre do povo que ainda mora nessas cidades pensando que elas são um pedaço do paraíso na Terra...E é certo: o Governo do Estado e a prefeitura da capital têm que parar de divulgar nossas "qualidades". Não temos mais qualidades para suportar tanta gente aqui.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

ENIGMA

Pedras da praia de Itaguaçu – um dos lugares mágicos de Florianópolis. Imagem registrada com uma câmera Fuji A330, em dezembro de 2004. Levemente tratada no Picasa2

Mudanças climáticas

Em seu livro "O Mestre-Escola Viaja no Tempo", publicado em 1978, contendo crônicas publicadas no jornal O Estado (edição do Governo do Estado, quando o governo se preocupava com a nossa cultura), o professor Abelardo Sousa abordava as mudanças climáticas em Florianópolis. "Estarão ocorrendo mutações climáticas?", era o título da crônica.

"Aqui, em nossa cidade, é comum, principalmente da parte de pessoas idosas, ouvir-se referências e comentários relativos a esse assunto. Dizem uns que as estações climáticas hoje não têm a regularidade de antigamente, quando verão era verão e inverno, inverno. Outros adiantam que elas estão com o seu início atrasado, pois as árvores começam a brotar e a florir quase no início do verão. Que este, em conseqüência, não começa mais em dezembro, mas em fevereiro. E assim, a regularidade das estações vai sendo, segundo eles, alterada por fenômenos que, no fim de contas, nem eles nem ninguém sabe explicar.
O mesmo se dá com as chuvas e com as secas. Há os que acham que chove mais hoje do que antigamente. E, ainda, encontramos os que são adeptos da teoria de que o inverno é, agora, mais rigoroso e mais longo, que não há mais verão, em contraposição aos que julgam que, nessas inversões climáticas, ocorre justamente o contrário. É um não-mais-acabar de opiniões, quase todas emitidas, via-de-regra, por entendidos, que, ao que parece, pouco entendem do assunto". (...)

Para respaldar seus argumentos, e sem poder recorrer de imediato ao mestre Seixas Neto (o nosso meteorologista de então), Sousa recua no tempo, ao século 19, mais precisamente às anotações de José Brazilício de Souza (autor da melodia do Hino de Santa Catarina), que era astrônomo amador. Durante quatro anos, Brazilício observou a natureza na capital catarinense, compilando informações sobre o clima. Alguns exemplos, citados na crônica:

ANO – DIAS DE CHUVA – TEMPERATURAS

1884 – 172 dias – 30ºC (janeiro) – 8ºC (junho)
1885 – 135 dias – 30ºC (janeiro) – 12ºC (março) – 8ºC (junho)
1886 – 142 dias – 33ºC (janeiro) – 16ºC (fevereiro) – 4ºC (junho)
1887 – 169 dias – 37ºC (janeiro) – 10ºC (outubro)

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Segundo Brazilício – citado por Abelardo – "o clima na nossa ilha é quente e úmido durante quase todo o ano. O seu verão é muito longo, enquanto o inverno se manifesta somente uns poucos dias".

Finaliza o professor Abelardo: "Sempre que, no verão, houve temperaturas baixas, verifica-se o registro de 'forte vento Sul', ocorrência que provavelmente deu origem ao dito da sabedoria popular na ilha: 'inverno em Florianópolis é o vento Sul'.
Enfim, para mim, leigo, parece que muito pouca coisa mudou, neste particular. Contudo, com a palavra os experts na matéria".

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(*) O professor Abelardo Sousa foi um dos cronistas admiráveis de Santa Catarina no século passado. Nasceu em Florianópolis em 18 de fevereiro de 1920 e morreu em 1986. Foi professor e inspetor geral do ensino (mestre-escola) em Santa Catarina. Era também músico, autor de hinos, canções e marchas carnavalescas.

FOLGA

Por causa de compromissos profissionais, não vou poder atualizar o blog hoje à noite, nem amanhã.Volto no domingo à noite.

Há mais de 30 anos

Uma vista do centro de Florianópolis no início da década de 1970, antes do aterro e da segunda ponte – a Colombo Salles, inaugurada em 1975.
E antes, muito antes, da quase completa verticalização do miolo central

Memória de um prédio

Não li nas folhas de hoje alguma matéria que situasse exatamente a origem do prédio do Pró-Cidadão, vendido pelo prefeito Dário Berger a uma empresa privada anteontem.
Não sei antes (*), mas na minha adolescência funcionava naquele belo prédio a Caixa Econômica de Santa Catarina. Com a incorporação da Caixa pelo Besc, passou a funcionar ali uma agência de categoria do nosso banco estadual. Havia, na primeira entrada à direita, um cantinho onde se reuniam alguns líderes políticos catarinenses, entre os quais o ex-governador Ivo Silveira, que tinha cadeira cativa naquela roda.
O prédio é histórico. Vendê-lo, sob qualquer pretexto, é um desrespeito à memória dos florianopolitanos e catarinenses.
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(*) O Velho Bruxo ou o Paulo Stodieck devem saber: ali era parte do complexo comercial da Hoepcke?

Se fossem pobres...

Os jovens de classe média alta presos por tráfico de drogas no Rio de Janeiro são belos, saudáveis, elegantes.
Que explicação pode existir para que eles, aos 18 anos de idade, tenham formado uma quadrilha que fornecia drogas às festas rave? Ganância, vida fácil, falta de educação, ausência dos pais?
Gozado é que, se os criminosos fossem pobres, ninguém daria a mínima para eles.
Que sociedade desigual a nossa, não?

Eles não têm mais jeito

A desfaçatez com que as autoridades tratam graves questões – como a falência da companhia aérea BRA e a crise energética, que afeta o abastecimento de gás – já não surpreende ninguém. O ministro Nelson Jobim, que parecia uma esperança (embora alguns leitores tenham me advertido para essa falsa impressão), diz que a questão da BRA não é um problema do governo. Que se danem os consumidores (ou passageiros), foi exatamente o que ele quis afirmar nas entrevistas de ontem. Mas é problema do governo, sim, como a Varig e a Transbrasil também eram. A aviação é uma questão de Estado, da mesma forma que o transporte rodoviário e o transporte marítimo.
Garantir os direitos da cidadania, igualmente, é um dever do Estado. Se o Estado não garante, para quê Estado?

* * *

É necessário aplicar o mesmo princípio - a garantia dos direitos da cidadania pelo Estado - ao fornecimento do gás natural veicular. Se o governo abriu a possibilidade para o mercado, agora tem que assegurar o abastecimento. Qualquer outra atitude é mero deboche.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O dono do petróleo

Com a descoberta hoje de uma nova jazida de petróleo na Bacia de Campos, o Brasil inscreve-se entre as potências mundiais do setor.
O Governo Federal, como sempre, acha que o mérito é deles, dos manda-chuvas de plantão.
A Petrobras tem uma história, longa história, que não tem nada a ver com os que estão ocasionalmente no poder.
Portanto, o petróleo é nosso – não deles.

Fazendo a feira

Naquela discussão sobre coerência partidária, realmente cabe uma observação quanto à geléia geral. Na verdade, o PP tem um grupo de aguerridos líderes – Esperidião Amin à frente – e milhares de militantes fiéis. O PMDB tem no governador Luiz Henrique da Silveira um militante e líder histórico, filiado no partido desde os primórdios (1967), embora ele não se esforce muito por livrar a sigla dos aventureiros em geral, que não podem ver uma porta aberta e entram logo para “fazer a feira”.

O repórter estava certo

Há não muitos anos, um colega de trabalho me viu chegando ao jornal carregando algumas comprinhas básicas. Entre as quais, três ou quatro caixinhas de leite (longa-vida).
Repórter atento, ele me olhou e disparou a pergunta: “Sabias que o leite ‘de caixinha’ contém formol’”? Credo, pensei, “esse cara deve estar maluco ou é um daqueles ecochatos que ficam nos espreitando nas esquinas”.
É claro que não levei a advertência dele a sério. Agora, sabemos de quase tudo sobre essa bebida básica para a alimentação dos brasileiros, graças às denúncias que começaram a ser divulgadas no Estado de Minas.
Pelo andar da carruagem, não há leite que preste no mercado brasileiro. Se não dá para confiar no leite, como confiar no pão, na água mineral, no queijo, na carne, na salsicha, na cerveja e em tantos outros produtos vendidos em larga escala nos supermercados? Sem falar na gasolina, no álcool, no sabão...

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A verdade sobre o GNV

Milhões de otários brasileiros converteram seus automóveis para o uso de gás natural veicular (GNV). Um investimento médio que gira em torno de R$ 3 mil para instalar os equipamentos necessários. Agora, o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, diz que o gás natural "não é eficiente" para utilização nos veículos.
Tem mais: centenas de postos com a bandeira BR (da Petrobras...) espalhados pelo País vendem o gás diretamente aos consumidores. De cada dez táxis, nove utilizam esse combustível nos automóveis, porque a economia chega a 70%.

Embora – sejamos honestos – a conversão não seja realmente uma alternativa técnica recomendável. Os carros perdem potência e apresentam inúmeros problemas mecânicos depois que passam a rodar com esse combustível. Mas a economia compensa os transtornos.

E sejamos honestos novamente: por que as montadoras de automóveis, exceto a Fiat (em um único modelo, o Siena) não oferecem veículos zero quilômetro com a opção de GNV? Porque é muito caro montar um carro com o kit para o gás natural veicular. Simplesmente porque esse tipo de montagem não é automatizada – é manual.

Enfim, Gabrielli tem razão. Mas não poderia ter dito o que disse, só porque o governo vai ter de desviar o GNV dos postos de combustíveis para abastecer as usinas termelétricas... A verdade é bem esta: vai faltar energia e o governo precisa do gás. E quem vai pagar o pato, não há dúvida, é o pobre do cidadão brasileiro – que acreditou no GNV e em Lula et caterva.

Pausa poética 2

Do bem e do mal
Todos têm seu encanto: os santos e os corruptos.
Não há coisa na vida
inteiramente má.
Tu dizes que a verdade produz frutos...
Já viste as
flores que a mentira dá?

Mário Quintana. Nascido em Alegrete (RS), em 1906. Falecido em Porto Alegre (RS), em 1994.

Os camaradas

Um equívoco que o blogueiro corrige de imediato: naquela lista de partidos que são historicamente coerentes (*) faltou incluir o PCdoB – 85 anos de História não é fácil, ainda mais quando metade desse tempo foi vivido na clandestinidade, fugindo dos ditadores de plantão.
Perdão, meus caros camaradas, tão bem representados na Câmara de Florianópolis pela guerreira Angela Albino!
_________________________

(*) Cujos integrantes não ficam pulando de galho em galho

Não sabiam, de novo

Com toda a sua pose de primeiro-ministro, Nelson Jobim não sabia que a BRA estava mal das pernas e que poderia abandonar os passageiros (e 1.100 funcionários!) a qualquer momento?
Havia meses que a imprensa especulava sobre a situação da companhia aérea. Só o governo não compreendeu os sinais de que a BRA quebraria logo, logo.

Ainda sem compreender

A perícia confirmou falta de freios no caminhão que provocou a tragédia no Oeste catarinense, no mês passado, e que resultou na morte de 27 pessoas.
Mas ainda resta uma dúvida: mesmo que não tivesse freios, como é que o veículo rodou mais de dois quilômetros - a partir da sinalização que polícia rodoviária colocou - sem que tenha utilizado o freio-motor (a redução progressiva das marchas)?Não entendo nada de caminhão, mas em dois quilômetros não é possível parar um veículo desse porte?

Geléia geral

A história do deputado federal Gervásio Silva (SC), que deixou o DEM (ex-PFL), depois de 27 de março, para filiar-se ao PSDB, seria cômica se não tivesse pitadas de tragédia.
Diante da possibilidade de ter de devolver o mandato ao DEM, pelo qual foi eleito, Silva tentou voltar ao antigo partido. Conversou com algumas lideranças sobre essa alternativa, mas não obteve o perdão pretendido. Assim, vai aguardar o julgamento do caso no Tribunal Superior Eleitoral, na esperança de que os ministros compreendam sua atitude.

Há quem veja na intransigência do DEM uma coisa ruim, arbitrária. Nada disso. O DEM é um exemplo de partido político, que busca a coerência e a disciplina entre seus filiados. Uma democracia só é construída com partidos fortes, que tenham militantes e lideranças convictos do que pretendem.
E justiça seja feita: o PPS, o PT e o PDT seguem, de alguma forma, a mesma linha. O resto, como se sabe, é aquela geléia geral brasileira.

Duas notas sobre Saint-Exupéry

1 – Grato ao caro Ilton, que me lembrou sobre a única referência concreta a Florianópolis que há na obra de Saint-Exupéry. Mais exatamente no livro Vôo Noturno, onde o autor diz: ""Não tendo a escala de Florianópolis seguido as ordens..."
Esta é, realmente, a única referência que comprova a história dos pousos do escritor em Florianópolis.

2 – Alguém não entendeu a brincadeira que fiz sobre o Zury Machado não ter coberto os bailes – aos quais supostamente Saint-Exupéry teria comparecido – para o seu carnet social de O Estado.
É claro que Zury não poderia: ele começou no jornalismo em 1945, um ano depois da morte de Saint-Exupéry. Mais precisamente no jornal A Gazeta. Foi para O Estado na década de 1950. Nunca deixou o "mais antigo". E, com 80 e tantos anos, continua jovem e faceiro trabalhando na Trevere Jóias e apreciando o movimento da Rua Felipe Schmidt.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Saint-Exupéry, Zé Perry, Zeperri

Quem gosta dessa história envolvendo Antoine de Saint-Exupéry e pescadores do Campeche – ainda que seja sempre posta em dúvida pela historiografia oficial – não pode deixar de ler a matéria publicada no Diário Catarinense desta terça-feira, assinada pelo repórter Márcio Miranda Alves. A leitura é imprescindível, ainda mais hoje, quando se inaugura o Espaço Zeperri (o "nome" pelo qual o autor de "O Pequeno Príncipe seria conhecido entre os nativos da Ilha de Santa Catarina), lá mesmo, no mágico Campeche.
É importante ler também a entrevista concedida pela curadora da mostra, Mônica Cristina Corrêa, muito esclarecedora. Aqui.

SAIBA MAIS

O primeiro aeroporto de Florianópolis, na verdade um campo de pouso, foi aberto no Campeche, no início do século 20. Tornou-se escala obrigatória para os aviões do Correio Aéreo Francês, da companhia Latécoère (hoje Air France). Como as aeronaves eram muito rudimentares, não tinham autonomia de vôo para cumprir a rota Rio de Janeiro – Buenos Aires e, por isso, precisavam pousar para reabastecer. Saint-Exupéry era piloto do Correio Aéreo. Teria descido em Florianópolis várias vezes e se tornado amigo de moradores do Campeche. Mas não existem documentos oficiais, nem sequer uma carta, que comprovem a presença do escritor e piloto entre nós. O que existe é a chamada "história oral", passada de pai para filho, e na qual se baseia todo o romantismo enlaçando Saint-Exupéry e a Ilha.
Pelo sim, pelo não, por que duvidar?

A mostra que abre hoje na pousada Espaço Zeperri tenta desfazer um pouco do mistério, resgatando imagens e documentos sobre o escritor francês. Vale a pena conferir.

A ilustração acima foi retirada DAQUI. Nesta página, há referência à presença do piloto-escritor em Florianópolis: "Saint-Exupéry ali esteve (Campeche) muitas vezes entre 1926 e 1931, convivia com os locais, pescava e freqüentava os bailes do Lira Tênis Clube".

Uau. Lira Tênis Clube? E ninguém da época fotografou? O Zury Machado não cobriu os bailes para o carnet social de O Estado?

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Foto-teste

Recorri de novo ao precioso acervo do Velho Bruxo para um novo foto-teste. É certo que só a turma passada dos 50 anos tenha conhecido essa paisagem, tal qual se apresenta... (anos 1950). A primeira grande modificação nesse cenário aconteceu no final da década de 1960...

Abacaxi

Um menor de idade apreendido há vários dias -- pelo Estatuto da Criança e do Adolescente ele não poderia estar preso na delegacia -- virou um problema para a delegada da Mulher, da Criança e do Adolescente. Um problema só, não. Um "abacaxi", como ela própria definiu há pouco em entrevista ao Mário Mota (CBN-Diário). Ninguém resolve a questão e o garoto vai ficando na delegacia, à margem da lei, da sociedade, das autoridades, dos pais. A pobre delegada não sabe o que fazer com ele, da mesma forma que nós outros, que pagamos tantos impostos, não conseguimos entender tanta incompetência governamental.

Governos viris

Em geral, os balanços sobre acidentes nas estradas federais e estaduais provocam tristeza e preocupação. As autoridades repetem de forma incansável as razões que mais motivam os desastres: imprudência, excesso de velocidade, embriaguez ao volante etc. Mas não agregam à lista o mau estado das estradas, algumas em visível abandono, outras em obras – como a BR-101, tanto no trecho Sul quanto no Norte. A 101 continua sendo a rodovia mais perigosa. E não adianta os burocratas dizerem que perigosos são os motoristas; as estradas são, sim, muito perigosas, seja por erros de engenharia, seja por falta de sinalização ou de manutenção.

É preciso superar o discurso que apenas justifica os acidentes, apontando as causas mais evidentes. Todos sabemos que muitos motoristas dirigem de forma irresponsável. Ao volante, como lembrou outro dia o âncora Luiz Carlos Prates (CBN-Diário), estes se sentem viris, poderosos, insuperáveis. É pena que em geral eles causem mais danos aos próximos do que a si mesmos.

Mas, voltando às estradas: quem viaja muito já deve ter percebido o quanto são difíceis certas curvas, desvios, pontes, viadutos e retas da BR-101. Uma curva acentuada, entre Biguaçu e Tijucas (num lugar conhecido como Fazenda Biguaçu, pouco antes de Morretes, no sentido Sul-Norte), é um dos locais onde mais acontecem acidentes no trecho duplicado. A mureta de proteção precisa ser freqüentemente reconstruída. Não há motorista, mesmo que esteja a 80 quilômetros por hora, que não se surpreenda com a estupidez daquela curva de quase 180 graus. Chego a pensar que quem a desenhou devia estar delirando quando definiu o traçado do projeto. Ali, o motorista bom ou ruim, embriagado ou lúcido, é colocado à prova.
É apenas um caso. Há muitos outros, entre Florianópolis e Joinville, como há inúmeros exemplos no trecho Sul.

Vem aí a temporada de veraneio. Mais de um milhão de turistas vão circular pelo litoral catarinense entre dezembro e fevereiro, utilizando nossas estradas em obras (e também as abandonadas, como as estaduais que cortam a Ilha de Santa Catarina). É lamentável que tenhamos de prever não apenas o caos no trânsito, como também a multiplicação de acidentes pelas nossas combalidas rodovias. E de novo ouviremos o mesmo discurso: “Os culpados são os motoristas irresponsáveis, imprudentes, bêbados...”. Nenhum governo, através de seus agentes, jamais, admitirá sua culpa. Porque os governos, sim, são viris, poderosos e insuperáveis.

domingo, 4 de novembro de 2007

PAUSA POÉTICA

Ilha de Santa Catarina

Araújo Figueiredo (*)

Ilhéu que
sou, que graça e que contentamento
Sinto eu, quando te vejo e te percorro, ó
Ilha!
És, dos mares do Sul, a eterna maravilha;
E parece que tens um certo
movimento!

Embalam-te, num gozo, as carícias do vento;
E outras
vezes o vento os teus mares fervilha...
Pelos teus campos toda a luz do sol
rastilha;
Dá-lhes todo o vigor dum puríssimo alento!

Como eu te
quero bem, Ilha dos meus amores!
Com os teus laranjais, tuas vinhas e
flores;
Teus riachos de prata, abraçados em nastros...

E tuas
praias são esteiras de alvo linho,
Que se estendem a um sol de inefável
carinho,
Palpitantes de luz, de proas e de mastros!

(*) Para muitos que vivem em Florianópolis, Araújo Figueiredo é apenas o nome de uma rua próxima ao Teatro Álvaro de Carvalho. Mas Juvêncio de Araújo Figueiredo foi um dos mais importantes poetas catarinenses do século 19, contemporâneo (e amigo) de Cruz e Sousa, Virgílio Várzea, Santos Lostada e Horácio de Carvalho, grupo de poetas que seguia a linha estética do realismo (o ideal da beleza). Culto, foi promotor público e jornalista, além de fervoroso militante partidário (Partido Liberal Catarinense). Araújo Figueiredo nasceu em Desterro (hoje Florianópolis) em 27 de setembro de 1864. Viveu alguns anos no Rio de Janeiro, mas voltou à capital catarinense, tendo ido residir no sítios dos Coqueiros, junto ao mar que tanto amava. Morreu em 6 de abril de 1927, deixando uma obra volumosa, em que se destacam “Madrigais” (1888), “Ascetério” (1904) e “Praias de Minha Terra” (1927). É deste último, que integra a antologia comemorativa do centenário de nascimento de Figueiredo (1964), que foi extraído o poema acima.