Em geral, os balanços sobre acidentes nas estradas federais e estaduais provocam tristeza e preocupação. As autoridades repetem de forma incansável as razões que mais motivam os desastres: imprudência, excesso de velocidade, embriaguez ao volante etc. Mas não agregam à lista o mau estado das estradas, algumas em visível abandono, outras em obras – como a BR-101, tanto no trecho Sul quanto no Norte. A 101 continua sendo a rodovia mais perigosa. E não adianta os burocratas dizerem que perigosos são os motoristas; as estradas são, sim, muito perigosas, seja por erros de engenharia, seja por falta de sinalização ou de manutenção.
É preciso superar o discurso que apenas justifica os acidentes, apontando as causas mais evidentes. Todos sabemos que muitos motoristas dirigem de forma irresponsável. Ao volante, como lembrou outro dia o âncora Luiz Carlos Prates (CBN-Diário), estes se sentem viris, poderosos, insuperáveis. É pena que em geral eles causem mais danos aos próximos do que a si mesmos.
Mas, voltando às estradas: quem viaja muito já deve ter percebido o quanto são difíceis certas curvas, desvios, pontes, viadutos e retas da BR-101. Uma curva acentuada, entre Biguaçu e Tijucas (num lugar conhecido como Fazenda Biguaçu, pouco antes de Morretes, no sentido Sul-Norte), é um dos locais onde mais acontecem acidentes no trecho duplicado. A mureta de proteção precisa ser freqüentemente reconstruída. Não há motorista, mesmo que esteja a 80 quilômetros por hora, que não se surpreenda com a estupidez daquela curva de quase 180 graus. Chego a pensar que quem a desenhou devia estar delirando quando definiu o traçado do projeto. Ali, o motorista bom ou ruim, embriagado ou lúcido, é colocado à prova.
É apenas um caso. Há muitos outros, entre Florianópolis e Joinville, como há inúmeros exemplos no trecho Sul.
Vem aí a temporada de veraneio. Mais de um milhão de turistas vão circular pelo litoral catarinense entre dezembro e fevereiro, utilizando nossas estradas em obras (e também as abandonadas, como as estaduais que cortam a Ilha de Santa Catarina). É lamentável que tenhamos de prever não apenas o caos no trânsito, como também a multiplicação de acidentes pelas nossas combalidas rodovias. E de novo ouviremos o mesmo discurso: “Os culpados são os motoristas irresponsáveis, imprudentes, bêbados...”. Nenhum governo, através de seus agentes, jamais, admitirá sua culpa. Porque os governos, sim, são viris, poderosos e insuperáveis.
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
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