Saudade de Carlos Drummond de Andrade, de seus poemas no Jornal do Brasil, de sua fala, de seu jeito único de escrever e sentir. No dia da morte dele, 17 de agosto de 1987, estava trabalhando em Erechim (RS). Era um dia de forte geada, lembro-me bem, com a temperatura variando entre -1º e 2ºC. À noite, no hotel onde estava hospedado, em volta da lareira, soube da morte dele pelo Jornal Nacional. Drummond nos deixou órfãos. De todos os seus poemas, gosto muito deste, porque, escrito em meados do século 20, continua atualíssimo, pela forma e pelo conteúdo.
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de
uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da
janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é
a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Um comentário:
Drummond, demais. O sua extraordinária sensibilidade pode ser admirada em O Furto da Flor (http://angel-k.blogspot.com/2007/06/o-furto-da-flor.html).
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