segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Os eixos da História

Há nas análises sobre a situação política uma consideração que nos parece muito interessante: quem está do lado de Lula é “de esquerda”. Quem está contra, “é de direita”.
É isso que pensam os petistas e certos grupos aliados ao atual presidente.
Mas vamos colocar o problema em bons termos:
1º – Estes, que dizem que os opositores de Lula são, genericamente, “de direita”, esquecem de um componente central da questão. Ainda que esse papo sobre direita e esquerda esteja superadíssimo, convém esclarecer que nos últimos 50 anos nunca houve esquerda hegemônica no Brasil. Quem conhece minimamente a História sabe que o nosso esquerdismo começou com a fundação do Partido Comunista Brasileiro [PCB] em 1922. A coisa foi mais ou menos centrada no Partidão até o início da década de 1960, quando ocorreu a cisão que deu origem ao Partido Comunista do Brasil [PCdoB]. O mais antigo ficou identificado com a União Soviética [rezando pela cartilha de Josef Stálin] e o filhote se espelhou no modelo chinês de comunismo [Mao Tsé-Tung].
2º – Houve novas cisões no Partidão, e também no PCdoB, ao longo daquela década. Surgiram as chamadas “tendências” e grupos de extrema-esquerda, alguns defendendo livremente a luta armada para derrubar o regime militar. São daquele tempo organizações como a ALN, MEP, APML, Polop, MR-8, entre outras. Paralelamente, apareceram novas dissensões, como as trotskistas (Trabalho e Luta, por exemplo).
3º – O PT foi fundado em 1980, com gente oriunda de todo esse espectro citado e mais os social-democratas e liberais “progressistas”. Poucos integrantes do Partidão e do PCdoB, por exemplo, participaram da gênese petista, por absoluta discordância e divergências insuperáveis com os trotskistas – uma das tendências dominantes na formação do PT. É verdade que o leninismo inspirou uma linha interna do partido de Lula, mas sem ser elemento ideológico fundamental.
4º – Por causa das lutas internas pelo poder, o trotskismo mais radical foi expurgado do PT na década de 1990. Os alinhados com essa tendência extremista formaram o PSTU.
5º – Quando houve o episódio do Mensalão, muitos petistas indignados deixaram a sigla para formar o P-Sol, um partido que reúne gente mais identificada com o leninismo, mas também marxistas históricos.
6º – O PT é formado hoje por dezenas de tendências internas, sendo majoritárias aquelas que se identificam com a social-democracia e o neoliberalismo. Não é, portanto, um partido “de esquerda”. Tem gente de esquerda no seu meio, como o PMDB, o PDT e o PPS também têm. [Lembrando que o PPS é o antigo PCB, sem ser necessariamente uma sigla “de esquerda”. É social-democrata também, da mesma forma que o PSDB].
7º – Enfim, o governo Lula não é um “governo de esquerda”, nem de centro-esquerda. Numa análise fria, sem qualquer paixão ideológica, seria impossível não identificar esse governo como uma direita levemente progressista, com traços de populismo esquerdista. Nada mais.
8º – Portanto, opositores de Lula, fiquem tranqüilos. Não há nada mais “de direita” hoje no Brasil do que essa coisa de jogar pra platéia dos descamisados, sem que se lhes ofereça [aos descamisados] um mínimo de perspectiva de vida, a não ser o paliativo da bolsa-esmola. Esse discurso voltado aos excluídos foi, por sinal, o que consagrou Fernando Collor em 1989. E o Collor, vocês sabem, era um “elitista militante”...

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