quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Ivo Silveira

Volta e meia, me vêm à memória duas imagens marcantes da minha infância: os muros pichados com as expressões Ivo 65 e Konder 65. Criança, eu ainda não entendia muito bem o que aquilo significava. Mas foram inscrições históricas, que ficaram nos muros durante muitos anos. Lembro-me das viagens a Bom Retiro, quando ainda não havia a BR-282, e dos muros onde, ao longo da minha adolescência, permaneceram gravados os dois nomes e o numeral. Tempos depois, e na militância de oposição ao regime militar, consegui entender porque as pichações seguiram resistindo. Era como se simbolizassem o fim de um tempo de bonança democrática, rompido pelo período de trevas que se iniciava.

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Eu era estudante do ginásio quando Ivo Silveira governou o Estado. À distância, tínhamos aquele respeito cerimonioso que o cargo dele nos inspirava. Andando pelo Centro, não era incomum vermos o governador participando de atos oficiais em frente ao Palácio Rosado (hoje Palácio Cruz e Sousa). Tempos de medo, de vozes veladas e cochichos: a ditadura cumpria seu curso sangrento, estávamos sob a tutela do Ato Institucional Número 5. Poucos meninos de hoje compreenderiam, como nós compreendíamos, o significado daquilo. O que me lembro é que os professores faziam "shhh...", colocando o dedo indicador sobre os lábios, para nos prevenir quando tínhamos alguma autoridade em volta, fosse mesmo um guarda de trânsito.

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Ivo Silveira encarnou o símbolo do poder civil num dos momentos mais graves da História nacional. Foi o último governador eleito numa disputa que envolvia os antigos partidos políticos, que despertavam paixões e mobilizavam multidões. Com a fundação da Aliança Renovadora Nacional (Arena), cuja organização teve a participação direta do então governador, o Ivo 65 e o Konder 65 passaram à condição de fatos superados. Desaparecia a emoção política. Surgia o servilismo burocrático ao Estado ditatorial, mesmo que na outra ponta houvesse o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), a oposição consentida.

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Tive oportunidade de entrevistá-lo várias vezes, a maior parte das quais para o jornal O Estado. Em 1998, Ivo Silveira esteve em meu programa SBT Entrevista, na TV O Estado (hoje Rede SC). Foi um bom bate-papo, em que se destacaram as reminiscências mais interessantes de sua vida política. Mas ele não gostava muito de falar sobre o regime militar, que era o meu interesse central.

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Tenho muito presente, também, sua passagem quase diária, até tempos atrás, pelo calçadão da Rua Felipe Schmidt. Estava sempre nas rodas dos veteranos da política. Era um freqüentador assíduo da agência do Besc do calçadão (onde hoje é uma repartição da prefeitura). Tinha lugar cativo naquela agência: um cantinho à direita de quem entrava (primeira porta), onde comandava conversas com seus contemporâneos, amigos e conhecidos, que se reuniam para colocar as fofocas em dia.

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