sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Ele não sabia... De novo

Para o presidente Lula, todos foram pegos de surpresa pelo caos aéreo. [Ele não sabia...]
Espera, presidente: vamos admitir que a culpa não seja do atual governo. Lá atrás, no deslumbramento que o neoliberalismo despertou no Brasil, houve muita irresponsabilidade em relação à aviação civil.
Questão 1: a democratização do setor, com o surgimento da Gol e o crescimento da TAM, provocou um descuido fatal com em relação à qualidade. As companhias passaram a trabalhar com metas de escala, não mais com a prestação correta dos serviços.
Questão 2: para operar com baixos custos e tornar as viagens aéreas mais acessíveis, as companhias (Gol e TAM) passaram a competir selvagemente. Em outras palavras, de novo caiu a qualidade. Numa entrevista esta semana à CBN nacional, uma dirigente do sindicato dos aeronautas denunciou a proletarização das atividades. Segundo ela, nenhum aeronauta está satisfeito com as condições de trabalho, salários e perspectivas profissionais. Todos sonham com uma vida melhor, além da TAM, além da Gol.
Questão 3: por causa de tudo isso, as aeronaves se transformaram em busões voadores. Todos os passageiros felizes com os baixos preços, às vezes inferiores aos de viagens terrestres, mas ninguém imaginava em que condições o milagre ocorria.
É possível que tudo isso pudesse ser melhorado pelo atual governo – e é aí que o governo tem culpa –, a partir de um conceito de responsabilidade em relação ao sistema aéreo. Não havendo providências sérias, e dentro do festerê populista, permitiu-se que a coisa toda evoluísse até um nível crítico. Admitida a hipótese de que o acidente do dia 17 aconteceu por falha mecânica, como vem sendo divulgado nos últimos dias, a questão é ainda mais grave, porque revela a total inoperância do governo (que deveria fiscalizar com rigor) e o total desprezo das companhias aéreas à cidadania. Basta ver a empáfia e a frieza do presidente da TAM – como apontou hoje o colunista Cláudio Humberto – quando se refere ao desastre aéreo e às suas vítimas: tudo são números.

* * *

A Gol e a TAM se gabam de ter baixado os custos dos vôos eliminando, por exemplo, o serviço de bordo – que era um item oneroso nas viagens da Varig, Transbrasil e Vasp.
Mas eu, como passageiro, gostaria muito que as empresas brasileiras se espelhassem no exemplo dos vôos internos da Europa. O serviço de bordo é pago à parte, na hora do consumo. Quer uma cerveja? Pague. Um vinho? Pague. E as passagens não são caras, os aviões seguros e revisados e a cortesia dos aeronautas revela que eles são justamente remunerados para desempenhar suas atividades.

Nenhum comentário: