sexta-feira, 10 de agosto de 2007

UNE, 70 anos

A União Nacional dos Estudantes está completando 70 anos. Tenho orgulho de ter pertencido à entidade, em especial de ter participado, junto com outros 20 catarinenses, do congresso de reconstrução da UNE, realizado em maio de 1979, em Salvador (BA).
Fico emocionado em rever meu crachá de identificação, em reler os jornais baianos e catarinenses... Os daqui exageraram nas tintas. Fomos dados como presos - na verdade, detidos, interrogados e fichados em oito barreiras montadas pela ditadura, nos três dias de viagem que enfrentamos -, nossos parentes se apavoraram, o então deputado Dejandir Dalpasquale [PMDB] entrou na história, acompanhando nossa trajetória por telefone. Tudo terminou muito bem, voltamos mais aliviados, sem transtornos, embora tensos.
Do que me lembro, além da grande festa democrática que foi o congresso, um destaque especial: a abertura do evento, feita pelo ex-presidente da UNE, José Serra, hoje governador de São Paulo. Ele era um líder respeitadíssimo, tanto quanto o foram também José Dirceu, Luiz Travassos e Vladimir Palmeira, com a diferença de que Serra sempre foi mais moderado.
Dos que estiveram lá comigo, todos participaram do episódio conhecido como Novembrada, naquele mesmo ano. Digamos que a organização central daquela manifestação partiu do grupo que reconstruiu a UNE, embora nem todos tenham sido presos - a Polícia Federal identificou e colocou em cana os sete mais exaltados [e o Mosquito estava entre eles...].
É claro que não vejo a UNE de hoje da mesma forma que à época. Em 1979 tratávamos de lutar pela recuperação das liberdades democráticas, pela anistia ampla, geral e irrestrita, pela Constituinte. Era um outro momento histórico. A juventude estudantil de hoje tem outras causas, é menos esquerdista e mais anarquista [o que não quer dizer que isso seja ruim].
Quando vejo meninos e meninas "politizados" ainda vejo esperança - e eu os amo e respeito por isso, porque eles ainda têm a coragem de acreditar num mundo melhor e mais justo, num Brasil moderno e vibrante, com a cara de sua gente... E penso: sim, é possível. Sempre será possível, apesar de tudo.


Um personagem

Impossível não registrar a presença de um anjo da guarda em nossa estada na Bahia. Quando chegamos a Salvador, um homem muito simpático se aproximou de nós, para nos orientar e oferecer ajuda. Era um médico, possivelmente comunista [era o que pensávamos], de boa situação financeira. Ele nos ofereceu sua casa de praia, nas proximidades de Salvador, para que pudéssemos tomar banho e dormir.
Fez mais ainda: a foto que está publicada aqui [entre outras] foi registrada por ele, a meu pedido, para que fosse publicada no Jornal da Semana, onde eu trabalhava à época.
Não lembro o nome dele. Mas foi um personagem marcante na nossa passagem por Salvador durante o congresso da UNE.

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