Quem vive aqui, está acostumado com o visual aí de cima (clicado por mim, esta semana, do alto do Morro da Cruz). Quem vive fora, não faz a mínima idéia do que acontece em Florianópolis. A cidade caminha para a inviabilidade urbana total. Um taxista me disse ontem que levou uma hora para cumprir o trajeto entre o Saco dos Limões, pelo túnel Antonieta de Barros, e o centro da cidade. Coisa de menos de três quilômetros. Pudera: Florianópolis cresceu mais de 50% em dez anos. São emplacados 2.500 carros novos por mês na cidade, chegando à incrível marca de 30 mil veículos ao ano. Mas as ruas são as mesmas: só aumentaram a quantidade de sinaleiras e criaram algumas conversões novas, por conta da construção de novos shoppings. Ah, sim, também construíram um viaduto que começa bem e termina mal – a descida do elevado para a reta das Três Pontes é um funil. Além disso, em horários de rush, os engarrafamentos no sentido da Lagoa da Conceição tornaram-se piores.
Hoje cedo, tive compromisso em São José. Fui de carona com um colega de trabalho. Ida tranqüila, coisa de 15 minutos. Mas a volta, às 10h15, foi um tormento. Tivemos de retornar por Coqueiros, porque a Via Expressa da BR-282 estava completamente parada.
As questões urbanas não se resumem ao trânsito, que vai de mal a pior. Há outros problemas estruturais, gravíssimos, relacionados à ocupação desenfreada e irresponsável da Ilha de Santa Catarina. Junto com essas questões estruturais, vêm também os desafios sociais, a proliferação das comunidades pobres, que criam bairros em áreas de preservação permanente, onde não há ruas, mas servidões precárias; sem esgoto, mas com água encanada, energia e até TV a cabo.
Ninguém faz nada. Quem tem autoridade, tolera, porque o voto fala mais alto. Quem não tem autoridade, tenta organizar a coisa, tenta chamar a população à participação nas discussões sobre o novo plano diretor. Mas nada evolui, nada sai do lugar. Nem os automóveis, presos nos engarrafamentos, nem a população pobre, refém da falta de emprego, de renda e de perspectivas. Assim, marchamos para a inviabilidade. Até o ponto em que, certamente, teremos de desistir de Florianópolis para, quem sabe, reencontrar Desterro em outro lugar, com menos automóveis, mais bicicletas; menos violência, mais solidariedade. Nem que seja em Pasárgada.
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
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