Gosto muito padre Ney Brasil Pereira, mas essa idéia para mudar o Hino de Santa Catarina requer uma ampla discussão cultural, educacional e social.
Ontem, quando ouvi a chamada do Diário Catarinense de hoje, na televisão, pensei que fosse novamente uma iniciativa do governador mudancista, o doutor Luiz Henrique da Silveira, que adora essa coisa de nouveau-riche, de mudar tudo, só por mudar.
Mas hoje, lendo atentamente o DC, percebi que estava enganado. Faz anos que o padre tenta levar adiante seu projeto. Ney Brasil é compositor e maestro respeitado nos meios religiosos.
Há argumentos interessantes, como o fato de o Hino não se referir, em qualquer momento, a Santa Catarina. Mas há outros muito falhos, como a defasagem histórica da letra. Este, não há como defender. Ainda mais quando vamos consultar a História e vemos que La Marseillaise, um hino escrito após a revolução francesa de 1789 (letra de Claude Joseph Rouget de Lisle), foi adotado oficialmente como hino daquele país em 1795. A letra menciona o heroísmo do povo e dos soldados na luta contra a tirania monárquica. Mas o hino francês é o mais belo do mundo contemporâneo, cantado com entusiasmo e civismo pelos cidadãos. (Confira AQUI a letra em francês e sua tradução oficial para o português).
Então, o argumento de que a juventude de hoje não entende o que canta (no caso do Hino de Santa Catarina) cai inteiramente por terra. Fosse assim, o hino da França, que também tem linguagem rebuscada e se refere a fatos antigos, já teria sido substituído há muito tempo. Mas os franceses jamais admitiriam tal desonra: o hino, para eles, é um símbolo indiscutível.
De qualquer forma, o padre Ney abre um debate. Há quem sugira um concurso para escolha de um novo hino. Por certo, um rap poderia ser escolhido, já que em tese a “atualização” da letra interessaria aos jovens. Mas quem garante que daqui a 100 anos não estará superado? Daí, vai aparecer alguém propondo nova mudança...
Como estou entrando de cabeça na discussão para defender o hino atual, quero destacar, como poeta e cidadão, que a letra de Horácio Nunes Pires contém alguns dos versos mais lindos da poesia catarinense em todos os tempos. Confiram as últimas estrofes. Aqui está reproduzido corretamente (de acordo com o site do governo estadual), já que no DC há palavras grafadas de forma errada:
O nosso Hino
Letra de Horácio Nunes Pires
Sagremos num hino de estrelas e flores
Num canto sublime de glórias e luz,
As festas que os livres frementes de ardores,
Celebram nas terras gigantes da cruz.
Quebram-se férreas cadeias,
Rojam algemas no chão;
Do povo nas epopéias
Fulge a luz da redenção.
No céu peregrino da Pátria gigante
Que é berço de glórias e berço de heróis
Levanta-se em ondas de luz deslumbrante,
O sol, Liberdade cercada de sóis.
Pela força do Direito
Pela força da razão,
Cai por terra o preconceito
Levanta-se uma Nação.
Não mais diferenças de sangues e raças
Não mais regalias sem termos fatais,
A força está toda do povo nas massas,
Irmãos somos todos e todos iguais.
Da liberdade adorada.
No deslumbrante clarão
Banha o povo a fronte ousada
E avigora o coração.
O povo que é grande mas não vingativo
Que nunca a justiça e o Direito calcou,
Com flores e festas deu vida ao cativo,
Com festas e flores o trono esmagou.
Quebrou-se a algema do escravo
E nesta grande Nação
É cada homem um bravo
Cada bravo um cidadão.
Nosso Hino foi adotado em 1895, através de lei assinada pelo então governador Hercílio Luz.
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
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