quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Cadeias, bandidos e chimpanzés

Palhoça, na Grande Florianópolis, era uma cidade-dormitório até poucos anos atrás. Ganhou uma nova dinâmica graças à duplicação da BR-101, que tornou o município mais acessível para novos moradores, empresários e trabalhadores. Distante menos de 20 quilômetros da Ilha de Santa Catarina, Palhoça vive uma época de esplendor econômico. A prefeitura prevê investimentos de R$ 1 bilhão, da iniciativa privada, em novos empreendimentos até o final de 2008.

Ocorre que o esplendor econômico provoca, por outro lado, graves demandas sociais. A periferia de Palhoça é hoje tão violenta quanto a de Florianópolis ou a de São José. O poder público não consegue suprir as carências habitacionais, nem de segurança pública, saúde ou educação. O resultado é visível: são tantos presos amontoados na delegacia local, que a única alternativa da pobre delegada é acorrentá-los às pilastras. É desumano? É. Mas mais desumano é perceber que o Governo do Estado, tão zeloso em mostrar as "qualidades", o "IDH", "a pujança", as "arenas multiuso" de Santa Catarina, não tem o menor cuidado em garantir mínimas condições para a vida em sociedade.

É hora de perder a pose, se é que certas autoridades catarinenses têm algum interesse em abandonar aquele ar blasé, de superioridade "européia" que ostentam em cerimônias públicas. O que os jornais vêm mostrando nos últimos dias, e que o Jornal da Globo dramatizou ainda mais há pouco, é o retrato fiel e acabado da inoperância governamental em Santa Catarina.

Sim, nós temos bandidos que precisam responder pelos crimes que cometeram. Mas temos também uma imensa população que espera, do Estado, as mais elementares providências quanto à segurança pública, prisões adequadas, delegados e policiais civis bem-remunerados. Porque, ao fim e ao cabo, os sorrisos e a aparência de noveau-riche dos nossos mandatários não passam em qualquer prova de competência, por mais que esses mandatários tenham belos diplomas emoldurados, fumem charutos cubanos, bebam os melhores vinhos e uísques e desfilem nos carrões mais incrementados. Tudo isso é perfumaria, é uma grosseira falsificação do que acontece na vida real.

E deve ser por tudo isso que os chimpanzés são superiores aos seres humanos em testes de memória, como mostrou uma pesquisa científica divulgada nesta terça-feira.

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