quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Grilhões antigos

Amarrar os presos aos pilares (*) dos prédios das delegacias não constitui, em si, um fato muito novo.
Sou da Vila, um dos bairros que formavam a Trindade antigamente (hoje é tudo Trindade, do trevo da penitenciária ao campus da UFSC). Minha família morava exatamente ao lado da 5ª Delegacia de Polícia. Durante muitos anos, e por falta de vagas na carceragem, os delegados mandavam acorrentar os presos às colunas e até aos pára-choques de viaturas quebradas, no pátio. Eu saía para trabalhar e estudar e só voltava à noite. Quando chegava, minha mãe sempre reclamava de um ou outro preso que ficara gemendo o dia inteiro. Meu pai relatava, pela manhã, que passara a noite ouvindo aqueles ruídos humanos. Dizia que pareciam uivos.
De onde concluímos que a questão prisional, no Brasil, realmente não é de direitos humanos. Como Sobral Pinto fez na década de 1940, em relação ao preso político Luiz Carlos Prestes, evoquemos os direitos dos animais para que os presos brasileiros tenham tratamento mais digno.

(*) Escrevi pilastra num post anterior. Consultei o Aurélio. A palavra mais apropriada é pilar (ou coluna).

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