sábado, 15 de dezembro de 2007

Fábula de um Arquiteto

Brasília, obra imortal de Niemeyer, numa capa da revista Manchete, publicada em setembro de 1972

Passei minha meninice ouvindo falar de Brasília e de Oscar Niemeyer. A revista Manchete, que era a leitura semanal em nossa casa, tinha como tema recorrente dois personagens: Juscelino Kubitscheck e Oscar Niemeyer. JK com seu sorriso, Niemeyer com sua expressão de gênio, Brasília ao fundo, como prova irrefutável da genialidade humana.
No centenário do arquiteto, fui à biblioteca buscar um livro de que gosto muito – a Antologia Poética de João Cabral de Melo Neto, publicado em 1978 pela editora José Olympio, reunindo as obras "A Educação Pela Pedra", "Serial", "Quaderna", "Uma Faca Só Lâmina", "Paisagens com Figuras", "O Cão sem Plumas", "Psicologia da Composição", "O Engenheiro" e "Pedra do Sono".
Cabral também foi gênio.
Do primeiro dos livros, "A Educação Pela Pedra", colhi "Fábula de um Arquiteto", beleza de poema, minha modesta homenagem a Niemeyer no dia dos seus 100 bem-vividos anos:

A arquitetura como construir portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e tecto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

2.

Até que, tantos livres o amedrontando,
renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até refechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto.

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